sábado, 10 de outubro de 2020

Convite ao despertar da consciência


























Filosofar nunca foi sobre deixar você feliz. É que andam mentindo muito por aí. Filosofar está mais ligado ao despertar do sonambulismo. Essa é minha proposta
nesta conversa com você. ”
"Quem tem medo de sofrer é incapaz de desejar. ” 
“A obsessão pela felicidade faz de você um chato. Como escapar dessa armadilha? Escolher o fracasso? Não precisa, ele te achará. Viver sem fórmulas é o desafio. ” 
“Uma certa dose de banalidade na vida é indício de alguma saúde mental, só gente doente e chata quer ser absolutamente relevante em tudo que faz. ” 
O cotidiano nem sempre é tomado apenas por questões profundas. E nem só delas vive o homem, mas também de banalidades. Muitas vezes, ele é tomado por questões ‘menores’, e é a elas que nos dedicaremos aqui. O cotidiano tenderá a ser mais pobre no futuro. Mais entediante e previsível. ” 

- Luiz Felipe Pondé, trecho do livro: "Filosofia do cotidiano: Um pequeno tratado sobre questões menores".

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Esse trecho de Luiz Felipe Pondé é um verdadeiro convite ao despertar da consciência, ainda que isso não nos leve, necessariamente, a um estado de felicidade — e, talvez, nem de conforto.


Ele quebra a ilusão moderna de que filosofar é um caminho para a paz ou para fórmulas prontas de felicidade. Filosofar, na visão dele, é acordar do sonambulismo social, romper com as mentiras bem embaladas que nos vendem todos os dias: felicidade instantânea, sucesso garantido, vida plena e sem dor.


Quando ele diz: “Quem tem medo de sofrer é incapaz de desejar.” nos provoca a refletir sobre o quanto evitamos viver plenamente, apenas por medo de nos frustrarmos. O desejo carrega, em sua essência, o risco. Desejar é assumir que podemos falhar, perder, sofrer. Mas é também o que nos faz vivos.


A crítica à obsessão pela felicidade é certeira e desconcertante. Na tentativa frenética de sermos felizes o tempo todo, nos tornamos chatos, ansiosos, vazios e incapazes de lidar com a vida como ela é: cheia de altos e baixos, de grandezas e banalidades.


Pondé também nos lembra que querer ser relevante o tempo inteiro é sinal de doença, não de virtude. Há beleza na trivialidade, no comum, no rotineiro. Viver não é só sobre grandes feitos; é sobre lavar a louça, tomar café, conversar fiado, errar, se reconciliar, tropeçar e continuar.


E, talvez, a parte mais provocadora seja quando ele diz que o cotidiano, no futuro, tende a ser mais pobre, entediante e previsível. Uma crítica velada à vida automatizada, digital, excessivamente controlada por algoritmos, onde até nossos desejos são induzidos e roteirizados.


No fundo, Pondé nos convida a fazer as pazes com a imperfeição da vida. Viver sem fórmulas, sem a ditadura da felicidade, sem a necessidade de ser extraordinário o tempo todo. Viver, simplesmente.

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