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sábado, 29 de novembro de 2025

🔄Um jeito diferente de continuar

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Nem tudo volta ao normal.

Eu descobri isso no silêncio dos dias em que esperava que a vida retomasse o ritmo antigo, como se fosse possível rebobinar uma fita. Mas não há botão de “play” que nos devolva ao que éramos antes. O que existe é um caminho novo, às vezes torto, às vezes lento, que nos obriga a aprender a respirar diferente.

 

Respirar de outro jeito não é apenas encher os pulmões de ar. É aceitar que cada inspiração carrega lembranças, e cada expiração solta um pouco do peso que insistimos em guardar. É como se o corpo aprendesse uma nova coreografia: menos apressada, mais consciente, mais atenta ao detalhe que antes passava despercebido.

 

No começo, parece estranho. O peito dói, a saudade aperta, e a sensação é de que falta algo. Mas, aos poucos, esse novo ritmo se torna familiar. Descobrimos que é possível viver sem voltar ao que era, que há beleza também no improviso, naquilo que nasce da falta.

 

E então, entre uma respiração e outra, percebemos: não voltamos ao normal, mas seguimos. E nesse seguir, há uma força discreta, quase invisível, que nos sustenta. Talvez seja isso que chamam de recomeço — não um retorno, mas um jeito diferente de continuar.


🔙Nem tudo volta!

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Nem tudo volta ao normal.

Às vezes você só aprende a respirar de outro jeito.

 

Há dias em que a gente insiste em procurar a porta por onde a vida costumava entrar.

Ficamos ali, encostados na parede, esperando que o vento volte pela mesma fresta,

que as risadas tenham o mesmo som,

que a rotina encaixe de novo nos mesmos horários

e que o coração bata do mesmo jeito que batia antes de tudo mudar.

 

Mas o tempo — esse professor que não levanta a voz — sempre encontra um jeito de nos contar:

algumas coisas não voltam.

E não porque fomos fracos, ou porque erramos,

mas simplesmente porque crescer também é perder formas antigas de existir.

 

No começo, assusta.

Parece que falta ar.

A gente tenta respirar como antes, tentando puxar o mundo inteiro de volta pros pulmões,

tentando segurar o que já se foi.

E dói.

Dói porque ainda estamos lembrando do ar velho enquanto o novo começa a se anunciar.

 

Mas é aí que, sem perceber, surge um gesto pequeno —

um passo dado sem medo,

um sorriso tímido,

uma conversa que acende algo,

ou apenas a coragem de levantar em um dia difícil.

Pequenas vitórias que vão ensinando o corpo a respirar diferente.

 

A vida não pede que você volte ao normal.

Ela pede que você siga.

Que encontre outro ritmo, outra delicadeza, outro jeito de se dobrar diante das tempestades.

E, quando você se dá conta, já está respirando com mais calma,

mesmo que o peito ainda carregue histórias que ninguém vê.

 

Nem tudo volta.

Mas você volta — não para quem era,

e sim para quem está se tornando.

E isso, de um jeito silencioso e bonito,

é o que mantém o mundo em movimento.

 


sábado, 22 de novembro de 2025

💙Eu aceito as coisas boas

Eu aceito as coisas boas que estão acontecendo.

Demorei a entender que elas não eram acidente, nem presente deixado por alguma sorte distraída. Elas tinham meu nome escrito nelas há muito tempo — só faltava eu ter a coragem de ir buscá-las.

 

Por muitos anos, fui especialista em achar que não merecia nada além do quase. Quase feliz. Quase tranquilo. Quase satisfeito. Vivia como quem atravessa a vida na ponta dos pés, com medo de perturbar o destino ou de desejar alto demais. Até que descobri um segredo simples: nada floresce onde a gente não se permite plantar.

 

As coisas boas não caíram no meu colo. Eu que fui atrás. Na primeira tentativa que deu errado. No pedido de desculpas que me custou o orgulho. No “não” que precisei dizer para proteger minha paz. Na decisão silenciosa de me priorizar, mesmo quando ninguém estava olhando. A vida me devolveu tudo isso — às vezes com atraso, às vezes com força — mas sempre devolveu.

 

Hoje, quando algo bom acontece, não penso mais que é coincidência. Penso que é consequência. É semente antiga brotando, é o tempo sendo justo, é o universo respondendo ao meu gesto, ainda que com aquele humor imprevisível que só ele tem.

 

Aceitar as coisas boas também é um ato de coragem. A gente se acostuma tanto com o peso que estranha quando aparece leveza. Mas aprendi a não fugir dela. A não desconfiar de cada sorriso. A não achar que felicidade cobra pedágio.

 

Sei exatamente de onde tudo isso veio: do caminho que trilhei quando ninguém aplaudia.

E, se hoje recebo o que sonhei, recebo de mãos abertas.

Porque, desta vez, eu sei — eu mereço.


sábado, 15 de novembro de 2025

🗯️Não Se Pode Dar o Que o Outro Não Sabe Receber

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Há dias em que o coração se adianta. Ele corre na frente, entrega o que sente, abre portas, acende luzes e estende a mesa para um banquete de afetos. E então a gente percebe, no silêncio do outro, que talvez tenha preparado demais para quem ainda não sabe sequer sentar à mesa.

É estranho como alguns gestos nascem grandes demais para mãos que ainda não aprenderam a segurar. A gente oferece cuidado, e o outro só queria distração. A gente entrega presença, e o outro só tinha espaço para passagem. A gente dá profundidade, e o outro ainda está aprendendo a nadar na superfície das próprias emoções.

Agatha Christie disse que não se pode dar às pessoas o que elas não são capazes de receber. E há uma sabedoria imensa nisso — não a do orgulho ferido, mas a da maturidade tranquila. Porque amor, afeto, amizade, compreensão… tudo isso precisa de um lugar onde pousar. Um solo fértil, uma terra que acolha. Caso contrário, vira semente lançada ao vento: bonita no gesto, mas perdida no destino.

A gente demora para entender que não é falta nossa. Não é exagero, nem intensidade, nem essa mania de sentir o mundo com todos os sentidos. Às vezes, simplesmente não cabe no outro. O timing não é o mesmo. A história não tem o mesmo capítulo. O coração não está na mesma página.

E que paz existe em aceitar isso.

Porque quando a gente aprende a oferecer só o que o outro pode receber, sobra espaço para guardar o que é precioso — e entregar, com doçura, a quem realmente tem mãos prontas para segurar. Sobra também a leveza de não insistir onde não há retorno, e a liberdade de não se encolher para caber.

No fim, a vida sempre devolve. Sempre encontra um peito que entende a linguagem do nosso afeto, um olhar que saiba acolher sem medo, uma alma que queira receber o que a nossa tem para dar.

E quando isso acontece, nenhuma entrega é desperdício.

É encontro. É reciprocidade. É destino respirando aliviado.

Porque o que é nosso, de verdade, sempre encontra quem saiba receber.


sábado, 8 de novembro de 2025

☀️Algo bom em cada dia

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Nem todos os dias são bons. Há dias em que o sol parece indiferente, o café esfria antes da hora e o humor insiste em não acompanhar o relógio. Há dias em que a vida pesa, as palavras cansam e o silêncio machuca.

Mas — e sempre há um “mas” —, se olharmos com calma, existe algo bom em cada dia. Pode ser um sorriso rápido, um gesto gentil, uma lembrança que aquece, uma mensagem que chega quando você mais precisa. Às vezes, é só o fato de ter conseguido levantar, respirar e tentar de novo.

O erro é achar que a felicidade vem em grandes acontecimentos. Ela mora nos detalhes, nas pequenas vitórias, nas pausas sinceras. E é nelas que a vida mostra que ainda vale a pena.

Então, quando o dia não for bom, procure o que ainda é. Porque o bom não desaparece — ele só se esconde, esperando o olhar certo para ser visto.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

📈Alinhar-se à Essência!

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Toda evolução pessoal começa silenciosamente — não no barulho das conquistas, mas no intervalo entre uma dúvida e uma escolha. É nesse espaço íntimo, onde só o coração sabe o que sente, que a alma sussurra o caminho.

Vivemos cercados de metas, planos e urgências. É fácil confundir crescimento com velocidade, e amadurecimento com acúmulo. Mas a verdadeira evolução pede algo mais simples e, ao mesmo tempo, mais profundo: carinho e atenção aos próprios sentimentos.

Olhar para dentro exige coragem. Nem sempre gostamos do que vemos — as feridas, as falhas, as partes que ainda não aprenderam a ser gentis. Mas é ali, justamente ali, que mora a semente da mudança. Cuidar de si é um ato de amor e paciência. É respeitar o tempo das flores que ainda não desabrocharam.

Estar alinhado à própria essência é viver em harmonia com aquilo que te faz único. É escolher não se perder tentando agradar o mundo, e sim se encontrar sendo inteiro. Às vezes, o maior progresso é apenas respirar fundo e dizer: “estou aqui, comigo, e está tudo bem.”

Porque crescer não é correr — é compreender.

E toda compreensão verdadeira nasce de um olhar terno para dentro.


domingo, 2 de novembro de 2025

🤔Além do Entendimento

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

- Clarice Lispector

Há coisas na vida que não se explicam — apenas se sentem. E, talvez, seja justamente aí que more a beleza de existir. Passamos tanto tempo tentando compreender, enquadrar, definir, que esquecemos de viver o instante em sua pureza, sem rótulos, sem pressa, sem garantias.

Renda-se. Essa palavra carrega um convite, não à desistência, mas à entrega. Entregar-se é reconhecer que o controle é uma ilusão bonita, porém frágil. É perceber que a vida se desenha em curvas, e não em linhas retas. Que há mares que só revelam a cor verdadeira quando a gente decide se molhar.

Mergulhar no desconhecido é assustador. O medo do incerto nos paralisa, mas é justamente o incerto que abre espaço para o novo. O amor, a fé, a arte, o encontro — nada disso cabe no raciocínio exato. Tudo o que realmente vale a pena está além da explicação.

Clarice estava certa: viver ultrapassa qualquer entendimento. Há dias em que a vida é caos, outros em que é calmaria. E talvez o segredo seja apenas deixar que cada um cumpra seu papel. Viver é deixar-se atravessar, é permitir que algo te transforme, mesmo que doa, mesmo que você não entenda.

Porque, no fim, a compreensão vem quando já não é mais necessária. E é aí — no instante em que você se rende — que a vida, enfim, começa a acontecer.