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Nem tudo volta ao normal.
Eu descobri isso no silêncio dos dias em que esperava que a vida retomasse o ritmo antigo, como se fosse possível rebobinar uma fita. Mas não há botão de “play” que nos devolva ao que éramos antes. O que existe é um caminho novo, às vezes torto, às vezes lento, que nos obriga a aprender a respirar diferente.
Respirar de outro jeito não é apenas encher os pulmões de ar. É aceitar que cada inspiração carrega lembranças, e cada expiração solta um pouco do peso que insistimos em guardar. É como se o corpo aprendesse uma nova coreografia: menos apressada, mais consciente, mais atenta ao detalhe que antes passava despercebido.
No começo, parece estranho. O peito dói, a saudade aperta, e a sensação é de que falta algo. Mas, aos poucos, esse novo ritmo se torna familiar. Descobrimos que é possível viver sem voltar ao que era, que há beleza também no improviso, naquilo que nasce da falta.
E então, entre uma respiração e outra, percebemos: não voltamos ao normal, mas seguimos. E nesse seguir, há uma força discreta, quase invisível, que nos sustenta. Talvez seja isso que chamam de recomeço — não um retorno, mas um jeito diferente de continuar.
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