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quinta-feira, 3 de julho de 2025

👻Vivos assustam mais que os mortos

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Há quem tema fantasmas, espíritos, vultos em corredores escuros e lugares mal-assombrados. E não os culpo — o desconhecido realmente assusta. Mas, sinceramente? O que mais me causa calafrio não são almas penadas do além, mas sim os vivos que fingem ser aquilo que não são. Gente que se esconde atrás de uma aura de luz artificial, que recita bondade de boca cheia mas pisa em silêncio onde ninguém vê.

Esses são os verdadeiros assombros do nosso tempo: os que falam em amor, mas odeiam com sofisticação; os que pregam empatia, mas viram o rosto diante da dor real; os que se vestem de paz, mas praticam guerra nos bastidores das relações. São sorridentes, educados, cheios de frases prontas sobre evolução e positividade, mas incapazes de oferecer uma escuta genuína ou um gesto verdadeiro.

Essas almas maquiadas não fazem barulho ao entrar, não arrastam correntes, mas congelam o ambiente com sua presença plástica. São mestres da dissimulação, da conveniência, do discurso sem prática. Gente que se vende como “de luz”, mas vive apagando o brilho dos outros por onde passa.

E pior: muitas vezes os aplaudimos. Confundimos aparência com essência, discurso com caráter, influência com verdade. Alimentamos essas figuras como quem alimenta lobos com pelagem de cordeiro — até que alguém sangra. E, geralmente, é alguém que acreditou.

A maldade disfarçada é mais perigosa que qualquer lenda urbana. Porque ela age em silêncio, destrói lentamente e ainda se apresenta como ajuda. Rouba confiança, distorce sentimentos, e no fim, ainda se faz de vítima. Enquanto os lugares mal-assombrados ficam nos cantos esquecidos, essas pessoas circulam entre nós, convivem, influenciam e contaminam.

Mas há um antídoto. E ele se chama verdade. A verdade não precisa se exibir — ela apenas é. Ela não precisa gritar que é do bem — ela age com bondade mesmo quando ninguém vê. Ela não precisa parecer iluminada — porque onde há luz de fato, não há sombra de pretensão.

No fim das contas, o que mais precisamos não é de gente que fala bonito, mas de pessoas que vivem o que dizem. Que sustentam sua integridade quando ninguém está olhando. Que não têm medo de ser imperfeitas, mas também não usam a imperfeição como desculpa para o egoísmo.

Sim, os vivos assustam mais que os mortos. Principalmente os que vestem fantasias de virtude para esconder vazios de alma. E não há exorcismo melhor do que enxergar com clareza e escolher, todos os dias, a companhia dos verdadeiros — ainda que poucos, ainda que discretos — porque esses, sim, iluminam sem fingir.

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