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sexta-feira, 11 de julho de 2025

🕊️A Paz que Não Disse Nada

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Às vezes, o silêncio pesa mais que as palavras. A gente acha que está escolhendo a paz quando engole um incômodo, quando deixa de dizer o que sente, quando se cala para não magoar, para não criar atrito, para não virar tempestade. Mas o curioso — e um tanto cruel — é que o silêncio também machuca. E, com o tempo, ele vira exatamente aquilo que queríamos evitar: conflito.

É uma ironia fina, quase imperceptível. A pessoa que evita conversas difíceis para manter tudo em ordem se vê presa em uma bagunça silenciosa. Nada foi dito, mas tudo está sendo sentido. As palavras que não foram pronunciadas criam ecos internos, acumulam-se como poeira embaixo do tapete: invisíveis para os olhos, mas incômodas para a alma.

E o mais curioso é que, muitas vezes, o outro nem sabe que há um problema. A gente espera que adivinhem, que percebam nas entrelinhas, que entendam os sinais mudos. Mas relações não são feitas de adivinhações. São feitas de diálogos — ainda que difíceis, ainda que desconfortáveis.

Escolher o silêncio como refúgio pode parecer sábio no começo, mas, em excesso, ele se torna muro. E, atrás desse muro, acumulam-se ressentimentos, mal-entendidos, suposições e mágoas que poderiam ter sido evitadas com uma simples frase dita com honestidade.

Dizer o que sentimos não é sinônimo de brigar. Às vezes, é exatamente o contrário: é salvar a relação da ruína silenciosa. É dar espaço para que o outro saiba quem somos de verdade. É construir, com palavras sinceras, uma ponte onde antes havia um abismo.

No fundo, todo mundo quer paz. Mas é preciso lembrar: paz não é ausência de conflito — é presença de verdade.

E a verdade, ainda que doa um pouco, é sempre mais leve que o silêncio carregado de tudo o que não foi dito.

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