quarta-feira, 24 de março de 2021

Pessoas precisam de pessoas

O Eco do Silêncio: Quando o Isolamento Vira Prisão

Nos dias de hoje, é cada vez mais comum ouvir alguém dizer que prefere se isolar. “Preciso de um tempo só pra mim”, dizem. E, de fato, há algo de sábio nessa busca por solitude. Aprender a estar bem consigo mesmo é uma habilidade rara, preciosa até. Mas há uma linha tênue — quase imperceptível — entre o saudável silêncio interior e o eco sufocante da solidão.

No começo, o afastamento parece descanso. A gente se recolhe, desacelera, se protege das turbulências lá de fora. Mas, de repente, sem nem perceber, esse refúgio se torna exílio. O que era autocuidado vira isolamento. E o problema do isolamento é que ele tem mãos invisíveis — e frias — que apertam o peito devagar, dia após dia, até que já não saibamos mais como pedir ajuda.

A verdade é desconfortável: pessoas precisam de pessoas. Sim, precisamos. Mesmo quem bate no peito pra dizer que não depende de ninguém. Mesmo quem se orgulha de ser “autossuficiente”. Somos seres essencialmente relacionais. O outro não é só companhia — é espelho, é abrigo, é ponte que nos leva de volta pra nós mesmos.

O problema é que vivemos numa sociedade que romantiza o isolamento, vende a falsa ideia de que se fechar é sinal de força, quando na verdade, muitas vezes, é só medo disfarçado. Medo de se abrir, de se mostrar vulnerável, de ser rejeitado, de não ser suficiente.

E nesse ciclo silencioso, começamos a esquecer como se faz pra voltar. Esquecemos como é dividir uma risada, como é contar um problema e perceber que ele pesa menos quando está no colo de dois. Esquecemos que abraço cura, que olhar nos olhos ainda é remédio, e que palavra amiga, quando sincera, é bálsamo pra alma cansada.

Ficar só, às vezes, é necessário. Mas viver só, não. Há uma diferença brutal entre escolher momentos de solitude e se perder no labirinto da própria ausência.

Quebrar esse ciclo não é fácil. Exige coragem. A mesma coragem que, às vezes, achamos que não temos mais. Mas está lá, escondida, esperando um gesto simples: uma mensagem, uma ligação, um “vamos tomar um café?”.

Porque, no fim das contas, o isolamento pode até ser confortável — mas só até a gente perceber que o silêncio, quando ecoa por tempo demais, se transforma em solidão. E solidão, essa sim, pesa. E muito.

Que sejamos ponte uns pros outros. Que tenhamos a humildade de reconhecer: ninguém atravessa a vida sozinho.

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