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Lucas sempre achou que teria tempo. Tempo para pedir desculpas, tempo para recomeçar, tempo para ser feliz. Tinha vinte e poucos anos e uma pressa disfarçada de calma. Vivia dizendo que a vida era longa, mas andava como quem não tivesse pressa de vivê-la — ocupado demais com o que não importava.
O trabalho o consumia, as redes o distraíam, as pequenas guerras diárias o anestesiavam. Tudo parecia urgente, mas nada era essencial. Até o dia em que, numa manhã qualquer, sentado no banco de uma estação, ele percebeu o movimento da vida ao redor — e o quanto ela passava depressa.
Uma senhora sorria para o neto. Um casal discutia baixinho, mas sem raiva. Um vendedor de café cumprimentava cada passageiro pelo nome. E Lucas, com o celular na mão, não soube dizer há quanto tempo não olhava alguém nos olhos.
Quando o trem chegou, ele sentiu o vento bater no rosto — e algo dentro dele se moveu. Foi como se, por um instante, a vida passasse mesmo diante dos seus olhos: as risadas que perdeu, as pessoas que deixou ir, os abraços que não deu.
Não havia trilha sonora, nem final dramático. Só um silêncio que dizia tudo: o tempo não espera por ninguém.
Naquele dia, ele não pegou o trem. Voltou para casa a pé. No caminho, mandou uma mensagem para a mãe, sorriu para um estranho e respirou fundo. Era pouco, mas era o começo.
Porque a vida é assim — uma viagem rápida demais para se gastar energia com o que não constrói. E, no fim das contas, quem entende isso a tempo aprende a ver beleza até naquilo que parece simples: o vento no rosto, o café quente e o agora.
E o agora, ele percebeu, é o único lugar onde a vida realmente acontece.
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