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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

😮‍💨Quando o silêncio respira

. . .

Era madrugada quando ele percebeu que o barulho não vinha mais da rua. Os carros já tinham ido, os vizinhos dormiam, e até o vento parecia cansado. Ainda assim, o ruído permanecia. Um som abafado, insistente, que vinha de um lugar que nenhum tampão de ouvido conseguia alcançar.

Sentou-se na beira da cama. Olhou para o teto como quem procura uma resposta no branco. Mas não havia nada — só o eco do próprio pensamento. E ali, dentro da mente, era como uma praça em dia de feira: vozes, lembranças, cobranças, arrependimentos, diálogos que nunca aconteceram, e silêncios que sempre doeram.

“Preciso de paz”, murmurou, sem saber a quem pedia. Talvez a si mesmo. Talvez ao universo. Talvez a esse vazio que, de repente, parecia o único capaz de ouvir.

Decidiu então caminhar. Saiu descalço, deixou o frio tocar os pés e seguiu até a varanda. Lá fora, o mundo respirava devagar — o poste aceso, o som distante de um cachorro, o céu quieto demais. E, por um instante, ele entendeu: o silêncio que buscava não era o das ruas. Era o de dentro.

Porque o barulho mais alto é o que fazemos dentro de nós.

Fechou os olhos. Inspirou. Expirou. E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu algo se aquietar — não o mundo, mas o pensamento.

Naquele instante, o silêncio deixou de ser ausência de som.

Virou presença.

Virou abrigo.

Virou resposta.


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