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sábado, 4 de outubro de 2025

👖O Último Bolso (Conto)

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Seu Joaquim tinha um costume curioso: todos os dias, ao acordar, colocava uma pedrinha no bolso. Não era uma pedra especial — podia ser qualquer uma que encontrasse no quintal. Mas para ele, cada pedrinha representava um dia vivido. Um lembrete de que o tempo não volta, mas pode ser guardado.

Com o passar dos anos, os bolsos foram ficando pesados. E mesmo assim, ele nunca deixou de carregar suas pedrinhas. Quando perguntavam o motivo, ele sorria e dizia:

“É só pra lembrar que tudo o que temos, no fim, cabe num bolso.”

Seu Joaquim teve uma vida simples. Lutou por uma casa, por comida na mesa, por criar os filhos com dignidade. Teve alegrias que não cabiam em palavras e tristezas que não cabiam em lágrimas. E mesmo assim, nunca deixou de caminhar.

No último dia, já deitado, pediu que colocassem uma pedrinha em seu bolso. Não era superstição. Era símbolo.

Porque ele sabia: chegamos sem nada, lutamos por tudo, e partimos sem levar nada — exceto o que deixamos nos corações que tocamos.

Depois que partiu, seu neto encontrou uma caixa com dezenas de pedrinhas. Cada uma marcada com uma data, uma palavra, um gesto.

E ali, entre pedras comuns, havia uma história extraordinária.

A vida é estranha, sim. Mas talvez o segredo não esteja em acumular, e sim em marcar — com amor, com presença, com memória. Porque no fim, o último bolso não leva riquezas… leva significados.


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