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Era uma dessas noites em que o silêncio parecia mais alto que qualquer grito. Sentado à mesa, com a xícara de café já fria, ele pensava nas palavras que nunca disse. Não por falta de vocabulário, mas por excesso de receio. Evitar o conflito era sua arte — ou talvez sua prisão.
Quantas vezes engoliu o “não gostei”, o “me machucou”, o “preciso de você”? Quantas vezes sorriu por fora enquanto por dentro travava batalhas que ninguém via? O curioso é que, ao tentar preservar a paz, cultivou uma guerra interna. E essa, diferente das externas, não tinha tréguas nem acordos.
O silêncio, que deveria ser escudo, virou espada. Cortava aos poucos, com a lâmina da omissão. E os outros, sem saber, interpretavam esse calar como indiferença, como consentimento, como fraqueza. A ironia era cruel: calava para não ferir, mas feria por calar.
A vida, percebeu, não é feita apenas de palavras ditas, mas também das que se recusam a nascer. E há um preço por cada uma que morre antes de ser pronunciada. Às vezes, o custo é a distância de quem se ama. Outras, é a perda de si mesmo.
Naquela noite, ele decidiu falar. Não tudo de uma vez, mas o suficiente para começar a desarmar os muros que construiu com tijolos de silêncio. Porque há conflitos que só se resolvem quando se tem coragem de enfrentá-los — e há silêncios que precisam ser quebrados para que a paz verdadeira possa existir.
E você? O que tem deixado de dizer para evitar conflitos? Talvez seja hora de conversar com o próprio silêncio. Ele tem muito a revelar.
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