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Na beira de uma praia esquecida pelo tempo, havia um velho caderno enterrado sob a areia. Não tinha capa chamativa, nem folhas limpas — apenas páginas amareladas, marcadas por palavras que o vento parecia querer apagar. Quem o encontrasse, talvez pensasse que era lixo. Mas para Clara, era um convite.
Ela o achou num fim de tarde, quando caminhava sozinha tentando entender por que a vida parecia ter perdido o ritmo. O caderno estava ali, meio exposto, como se tivesse sido deixado por alguém que sabia que ela passaria por ali.
Ao abrir a primeira página, leu:
“Cada um tem sua história. Algumas escritas no silêncio, outras em sorrisos inesquecíveis. O mais importante é continuar.”
Clara sorriu. Era como se o caderno tivesse esperado por ela. As páginas seguintes estavam em branco. E foi ali, sentada na areia, que ela começou a escrever.
Não escreveu sobre grandes feitos, nem sobre dores profundas. Escreveu sobre o cheiro do café da manhã, sobre o abraço da avó, sobre o medo de não ser suficiente e a coragem de tentar mesmo assim. Escreveu sobre o dia em que chorou no ônibus e ninguém percebeu, e sobre o dia em que alguém sorriu pra ela sem motivo — e isso bastou.
Cada palavra era um passo. Cada frase, uma ponte entre o que ela foi e o que queria ser. O caderno não prometia respostas, mas oferecia espaço. E às vezes, é tudo o que precisamos.
Quando terminou, Clara não enterrou o caderno de novo. Deixou-o sobre uma pedra, aberto na última página em branco. Porque sabia que outra pessoa viria. E talvez, como ela, precisasse lembrar que sua história é única — e que só ela pode escrevê-la.
Às vezes, o silêncio guarda mais do que o barulho. E sorrisos, mesmo os esquecidos, continuam vivos em quem os deu.
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