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Na última poltrona, encostado à janela, eu assistia à vida correr. Não era a minha — era a de fora, passando depressa, como se tivesse medo de ser olhada.
Cenas se sucediam em silêncio:
um homem apressado atravessa a rua,
uma mulher ajeita o cabelo diante da vitrine,
uma criança ri para o vento.
Tudo foge sem se despedir.
E eu penso:
quantas histórias cabem no intervalo entre dois semáforos?
Quem são eles quando viram a esquina?
Quem sou eu, além desse instante que também vai passar?
A vida não explica. Ela corre.
Piscar é perder. Segurar é impossível.
O tempo é um rio sem curvas, um trem que não conhece retorno.
Orgulho, inveja, arrogância… de que valem
quando lembramos que a morte tem endereço certo?
Ela não apressa nem atrasa,
mas sabe que todos nós caminhamos até ela.
No fim, só resta isso:
o agora, que escapa pela janela
enquanto eu tento, com os olhos,
reter o que nunca se deixa ficar.
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