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Era uma tarde qualquer, dessas em que o sol parece mais disposto a iluminar do que a aquecer. No banco da praça, um senhor de cabelos brancos observava o vai e vem das pessoas com olhos que já tinham visto mais do que gostariam. Ao seu lado, um menino brincava com um carrinho, alheio ao peso que pairava no ar.
— Sabe, garoto — disse o senhor, sem esperar resposta — tem gente que carrega mágoas como se fossem medalhas. Exibem com orgulho, como se o sofrimento fosse troféu.
O menino olhou curioso, mas continuou empurrando o carrinho.
— Eu também já fiz isso — continuou o velho — guardei rancores como quem coleciona pedras. Pesadas, frias, inúteis. E com elas, construí muros. Muros entre mim e quem eu amava.
Silêncio.
— Um dia, percebi que os muros não me protegiam. Me isolavam. E que talvez, só talvez, aquelas pedras pudessem servir para outra coisa. Uma ponte, quem sabe.
O menino parou. Olhou para o senhor com olhos grandes, como quem entende mais do que deveria.
— E você construiu a ponte?
O velho sorriu, mas era um sorriso triste.
— Ainda estou tentando. Às vezes, quem está do outro lado já foi embora. Mas a ponte… a ponte ainda vale a pena.
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Nem todo erro merece castigo. Alguns só pedem compreensão. Outros, silêncio. E há aqueles que imploram por perdão, mesmo sem palavras. Porque perdoar não é esquecer — é lembrar sem dor. É reconstruir o caminho, mesmo que os passos sejam incertos.
A vida é curta demais para colecionar muros. E longa o suficiente para construir pontes. Que a gente tenha coragem de atravessá-las, mesmo que o outro lado pareça distante.
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