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No cantinho da última poltrona do ônibus, pela janela, eu observava a vida deslizar silenciosa diante dos meus olhos. A viagem de ida e volta somava três horas, tempo suficiente para que meu pensamento se perdesse longe, misturando-se às passadas apressadas dos transeuntes, ao ronco dos veículos e às paisagens que iam ficando para trás, como recordações fugazes.
Cada figura que cruzava meu olhar carregava uma história invisível, um mistério guardado em seus gestos e passos. Quem seriam? O que fariam? Estariam tão imersos em suas próprias vidas quanto eu? Perguntas que flutuavam enquanto eu me perguntava se um dia cruzaria novamente com aqueles personagens anônimos, testemunhas silenciosas do meu próprio passar.
E assim, a vida seguia seu curso rápido, um filme em câmera acelerada. Cada instante detalhado, cada nuance parecia carregar um significado profundo. Era impossível não pensar nas pequenas coisas que carregamos dentro de nós: orgulho, inveja, arrogância. Pequenos grilhões que, diante da certeza da finitude, se dissolvem como fumaça no ar.
A vida não espera, não escolhe. Corre no ritmo frenético de um trem-bala. Piscar de olhos, e já não estamos mais aqui. Essa percepção me coloca diante de uma escolha: olhar para dentro, para o que realmente importa, ou deixar que o tempo continue passando, levando tudo consigo.
Sentado naquela última poltrona, percebo que mais do que observar a vida, estou aprendendo a vivê-la com mais atenção, menos pressa, e, quem sabe, um pouco mais de humildade.
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