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Era fim de tarde quando Clara percebeu que estava sempre correndo — não por compromissos, mas por pessoas.
Corria para responder mensagens que vinham quando o outro tinha tempo. Corria para ajustar horários, mudar planos, inventar desculpas para caber nas brechas de alguém. E quando o silêncio vinha, ela ainda esperava — como se amor precisasse de permissão para existir.
Mas um dia, cansou.
Não por raiva, mas por clareza.
Percebeu que há quem te encaixe no tempo livre, e há quem te encaixe na vida — e isso muda tudo.
O primeiro te procura quando o tédio aperta, quando o dia está leve ou quando a solidão aperta à noite. O segundo te procura porque faz sentido. Porque sente falta. Porque estar junto é prioridade, não passatempo.
Clara começou a notar a diferença nos gestos simples: quem mandava um “bom dia” por hábito e quem mandava por vontade. Quem lembrava dela quando sobrava tempo e quem criava tempo pra ela existir dentro da rotina.
Foi então que entendeu que amor não é encaixe, é escolha.
E que quem te quer de verdade não espera o relógio folgar — te coloca no centro, mesmo que o dia seja curto.
Clara aprendeu a não aceitar migalhas de presença.
Porque há uma beleza silenciosa em ser prioridade — e uma dor disfarçada em ser apenas opção.
E, no fim, ela escolheu a si mesma.
Porque, às vezes, a vida começa exatamente quando você para de aceitar caber apenas no tempo livre dos outros.