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Nem tudo o que se sente cabe numa frase. Às vezes, o coração transborda em silêncio, e o que resta é apenas o olhar — aquele que diz tudo, mesmo quando a boca se cala.
Havia um homem que caminhava todos os dias pela mesma rua, ao entardecer. Sentava-se num banco de madeira diante do mar e ficava ali, observando o horizonte se dissolver em tons de laranja. Quem o via de longe, talvez pensasse que ele esperava alguém. E, de certa forma, esperava — não uma pessoa, mas o retorno de algo que nunca soube nomear.
Era um sentimento antigo, daqueles que se escondem entre o que foi e o que poderia ter sido. Um afeto não dito, uma lembrança que o tempo não levou. Ele já tentara escrever cartas, poemas, até músicas. Nenhuma palavra parecia justa o bastante. Porque há dores, saudades e amores que não se traduzem — apenas se vivem em silêncio.
O vento soprava forte, e o mar respondia em ondas lentas. Ele fechou os olhos, respirou fundo e sorriu de leve. Entendeu que não precisava mais tentar dizer o que sentia. Afinal, o que é verdadeiro não precisa de testemunhas.
Há sentimentos que nascem para ser vividos dentro da alma — onde o verbo não alcança, mas o coração compreende.
E foi ali, entre o mar e o silêncio, que ele finalmente encontrou paz: na certeza de que o indizível também é forma de amor.
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