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Ela acordou com o peito apertado. O tipo de dor que não tem lugar certo — não é no corpo, é entre as lembranças. Às vezes dói mais quando o dia amanhece bonito, como se o mundo dissesse que tudo segue, mesmo quando dentro dela nada mais anda.
Laura não sabia lidar com saudades. Nunca soube. Tentava fingir que se acostumava, mas era mentira. As pessoas diziam que o tempo curava, mas o tempo, para ela, só fazia lembrar o quanto as coisas se foram. O café sem a conversa de antes, a rua sem o passo que acompanhava o dela, o silêncio ocupando espaços que antes eram risadas.
Ela aprendeu que saudade é o preço de ter vivido algo bonito. Mas que beleza cruel — amar o suficiente para doer tanto depois. Às vezes, tentava se distrair: lia um livro, arrumava as gavetas, colocava flores na janela. Mas tudo parecia um disfarce para o vazio que insistia em permanecer.
Numa tarde, sentou-se no banco da praça onde costumava esperar. O vento soprava leve, e por um instante, ela fechou os olhos. Imaginou que ainda estava ali — o sorriso, a voz, o calor de uma presença que o tempo levou.
E, curiosamente, não chorou.
Talvez, pela primeira vez, tenha entendido que saudade não é apenas falta. É também a prova de que algo foi real. Que o amor existiu. Que valeu.
E, mesmo doendo, ela sorriu — pequena, resignada, como quem reconhece: doer é o que resta de quem amou demais.
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