| PÁGINAS

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

🪞Além das Imperfeições

. . .

Helena sempre acreditou que a felicidade morava nos dias sem falhas — nas casas limpas, nos planos que davam certo, nas pessoas que nunca decepcionavam. Passou anos tentando encaixar a vida dentro desse molde exato, onde nada fugia do controle. Mas a vida, caprichosa como é, teimava em mostrar rachaduras nos lugares que ela mais tentava polir.

Naquela manhã, o café derramou na blusa branca antes da reunião. O ônibus atrasou. A chuva começou justo quando ela esqueceu o guarda-chuva. Tudo parecia conspirar contra a tal perfeição. Sentou-se no banco da praça, cansada, e pela primeira vez em muito tempo, não tentou consertar nada. Apenas olhou ao redor.

Um menino corria atrás de um cachorro de três patas — os dois rindo, se é que risos de cachorro existem. Uma senhora regava flores que insistiam em crescer tortas, mas ainda assim lindas. Um casal discutia e, logo depois, se abraçava como se o amor tivesse paciência para pequenos desentendimentos.

Helena sorriu.

Talvez a felicidade não estivesse nos dias impecáveis, mas justamente nesses detalhes imperfeitos que davam sabor à vida. No café que manchava a blusa, mas também aquecia a alma. Na chuva que atrapalhava o caminho, mas trazia o cheiro de terra molhada. Nos planos que falhavam, mas abriam espaço para surpresas.

De repente, tudo pareceu mais leve. A felicidade não era uma linha reta — era o desenho torto que a gente faz quando aprende a aceitar o que vem.

E, naquele instante, Helena decidiu: não esperaria mais pela vida perfeita. Escolheria, a cada dia, olhar além das imperfeições — e encontrar nelas o motivo mais bonito para sorrir.

Nenhum comentário: