sábado, 31 de maio de 2025

Toda Escolha é um Adeus Silencioso

A vida, no fundo, é esse eterno movimento de ir e deixar. De escolher um caminho… e, inevitavelmente, abrir mão de outros.


Por mais que a gente tente segurar tudo — pessoas, lugares, planos, certezas — existe uma regra silenciosa que a vida nunca negocia: quando você dá um passo pra frente, alguma coisa fica pra trás.


Faz parte.

E, sim… às vezes é triste. Às vezes pesa.

Outras vezes, é libertador.


Porque toda escolha carrega dentro dela um tipo de adeus.

Às vezes, um adeus a quem a gente era.

Às vezes, aos medos que já não cabem mais.

Outras vezes, um adeus a pessoas que foram parte da nossa história, mas não combinam mais com o nosso presente.


É curioso… a gente cresce achando que viver é acumular.

Acumular coisas.

Acumular gente.

Acumular certezas.


Mas crescer, na verdade, é aprender a soltar.

A deixar ir.

A entender que seguir em frente não é sinal de ingratidão, nem de frieza…

É só respeito ao fluxo da vida.


Porque quem tenta segurar tudo, perde a leveza.

E quem não aceita perder, não aprende a ganhar.


No fim das contas, viver é esse jogo delicado entre os passos que damos e as versões que deixamos pra trás.

E, entre o infelizmente e o felizmente, existe um lugar chamado crescimento.


A vida é movimento. E quem ama de verdade, entende: quando você escolhe um caminho, não é sobre perder o que ficou… é sobre honrar tudo aquilo… levando no coração, mas permitindo que seus pés sigam adiante.

Entre o “E se…” e o “Mesmo se”

Existe um sussurro constante que mora na cabeça da gente. Um sussurro que se disfarça de cuidado, de prudência, de alerta. Mas, na verdade, atende pelo nome de medo.


Ele sempre começa igual:

— “E se…”

— E se não der certo?

— E se eu não for capaz?

— E se eu me machucar?

— E se eu perder?

— E se eu tentar… e falhar?


O “e se” é mestre em fabricar cenários que nunca existiram. Cria tempestades em dias de céu azul, acidentes em estradas que nem foram construídas, fracassos em histórias que sequer começaram. E assim, aos poucos, vai paralisando passos, adiando sonhos, desmontando planos — antes mesmo que eles tenham chance de respirar.


O medo tem essa habilidade: fazer parecer que se proteger é o mesmo que se esconder.


Mas existe uma voz diferente. Uma voz que não nega o risco, nem finge que a vida é feita só de garantias. Pelo contrário: ela olha de frente para as possibilidades do fracasso e diz, com a serenidade de quem escolhe viver de verdade:

— “Mesmo se…”

— Mesmo se eu tropeçar, vou levantar.

— Mesmo se doer, vale a pena tentar.

— Mesmo se não sair como eu imaginei, eu seguirei adiante.

— Mesmo se o mundo inteiro disser não, eu escolho meu sim.


A fé — seja lá no que ou em quem for — não é uma fórmula mágica contra o erro, contra o fracasso, contra as quedas. Fé é, na verdade, essa coragem silenciosa que permite continuar, mesmo quando o cenário não é ideal. Mesmo quando o chão parece incerto, mesmo quando as respostas não chegam, mesmo quando o medo bate forte.


O medo pergunta: “E se der errado?”

A fé responde: “Mesmo se der… eu continuo.”


E talvez essa seja a diferença que muda tudo. Porque o medo busca controle — e se frustra, porque controlar a vida é ilusão. A fé, por outro lado, abraça a entrega. Não é sobre ter certeza do caminho. É sobre caminhar, apesar de.


No fundo, o convite da vida é esse: escolher de qual voz seremos discípulos. A que paralisa… ou a que impulsiona.


E, cá entre nós… que a gente aprenda, pouco a pouco, a substituir o “E se…” pelo “Mesmo se…”. Porque viver não é sobre garantir que nada dará errado. Viver é sobre seguir, mesmo se der.

Entre a Culpa e a Consciência

Existe uma linha tênue — quase invisível — entre o senso coletivo e a responsabilidade individual. E, ao que tudo indica, essa linha anda apagada, desfocada, esquecida.


O ser humano, em sua ânsia de pertencer, muitas vezes se dissolve na massa. Quando isso acontece, a identidade se fragiliza, e junto com ela, o entendimento de onde começam e terminam os próprios deveres.


A frase de Thomas Sowell é mais do que um comentário sobre os tempos atuais. É um espelho.

Ele reflete o paradoxo de uma sociedade que, em nome da empatia, substituiu a responsabilidade pelo ressentimento. Que, em nome da reparação, trocou a reflexão pela condenação.


Mas há um dilema profundo aqui:

Se cada indivíduo não responde mais por si,

E se todos, de algum modo, respondem pelo todo —

O que sobra do próprio “eu”? Onde mora a consciência?


Seremos, então, eternos devedores de pecados que não cometemos?

Ou estaremos, sem perceber, hipotecando nosso presente à sombra dos erros alheios?


A resposta, talvez, não esteja nas ruas, nem nas redes, nem nos discursos.

Talvez ela ainda resida no lugar mais simples — e mais negligenciado:

Na escolha individual.

No ato de se responsabilizar — não pelo mundo inteiro,

Mas, antes de tudo, por si mesmo.

A Era dos Inocentes-Culpados

Vivemos na era dos inocentes-culpados.

A fórmula é simples: eu não sou responsável pelo que faço, mas você é responsável por aquilo que eu sinto.


Erros, falhas, escolhas ruins?

Culpa do sistema, da infância, do governo, da sociedade.

Responsabilidade virou artigo de luxo — coisa de quem ainda acredita em caráter, em ética, em compromisso consigo mesmo.


Enquanto isso, cresce uma indústria robusta de transferências.

Transferência de culpa, de trauma, de dívida moral.

Se você nasceu no grupo errado, na cor errada, na classe errada, na geração errada — parabéns: a conta é sua, mesmo que você nunca tenha assinado esse boleto.


Viramos especialistas em esculpir vilões genéricos.

Vilões que não têm rosto, nem nome, nem CPF — são coletivos, fluidos, fáceis de odiar.

E, de quebra, essa caça às bruxas contemporânea permite que cada um fuja da própria responsabilidade, enquanto aponta para a do vizinho.


A ironia?

Numa sociedade onde ninguém é culpado,

Acabamos todos condenados.

O Fardo Invisível das Sombras Alheias

Há pesos que não se veem.

Pesos que chegam sem aviso, sem convite, sem dono declarado.

Pesos que se arrastam nas solas dos dias, nas conversas vazias, nos olhares que acusam — sem saber exatamente a quem.


Vivo num tempo onde as culpas são herança,

E as escolhas, simples fuga.

Onde se esquece que cada ato carrega sua própria assinatura,

Mas se espera que a dor tenha CPF coletivo.


Carrego nas costas fantasmas que não conheci.

Culpas de erros que não cometi.

Súplicas de um passado que nunca foi meu,

Mas que, de algum modo estranho, alguém decidiu me oferecer — sem perguntar se cabia.


E enquanto uns pintam suas feridas de bandeiras,

Outros colecionam dedos apontados,

Nessa ciranda onde ninguém erra,

E todos, de algum modo, estão errados.


Mas me recuso.

Me recuso a ser eco do que não fui.

Me recuso a calar meu presente,

Por gritos que não nasceram da minha garganta.


Que cada qual arque com seus próprios silêncios,

Com seus próprios abismos,

Com seus próprios passos.


E que eu, você, nós,

Possamos seguir — livres dos fardos que não são nossos.


O Peso que Não É Meu, o Peso que Não É Seu

Tem se tornado curioso — e, quem sabe, até inquietante — viver neste tempo em que a responsabilidade parece ter mudado de roupa, de endereço e, talvez, até de nome. De repente, ninguém mais responde por seus próprios atos. As escolhas erradas, os erros cometidos, as palavras ditas sem cuidado, tudo é sempre culpa de algo externo: da sociedade, do sistema, dos traumas, das circunstâncias.


E, num movimento inverso, cresce uma expectativa silenciosa (ou às vezes bem barulhenta) de que eu, você, nós, sejamos responsabilizados por erros que não cometemos. Erros de outras pessoas, de outros tempos, de outras histórias. Somos cobrados como se herdássemos não só os acertos de quem veio antes, mas, sobretudo, as dívidas, os tropeços e os fantasmas.


Vejo isso no olhar aflito das conversas, nos julgamentos que atravessam as redes, nos dedos apontados com a segurança de quem nunca errou — ou melhor, de quem acredita não ter culpa de nada. E, de repente, estamos todos nesse teatro estranho: atores que não escrevem suas falas, mas são cobrados pelo roteiro que outros deixaram.


É claro que não se trata de ignorar o passado. Carregar memória é essencial, entender contextos é maturidade. Mas há uma linha fina — e perigosamente borrada — entre reconhecer a história e ser condenado por ela.


Parece que, enquanto alguns se escondem atrás da desculpa da vítima eterna, outros se veem forçados a vestir culpas que jamais foram suas. É como se tivéssemos abandonado o velho e simples princípio de que cada um deve responder, antes de tudo, por aquilo que escolhe fazer.


No fim das contas, talvez o desafio dos nossos dias seja resgatar esse senso de responsabilidade individual. Entender que nem tudo que sofremos é culpa dos outros, e que nem tudo que os outros fizeram recai sobre nós.


Se não formos capazes de distinguir isso, corremos o risco de viver em uma sociedade onde todo mundo se sente injustiçado — e, paradoxalmente, ninguém é realmente culpado de nada.


O peso que não é meu… O peso que não é seu… Mas que, de alguma forma estranha, estamos todos tentando carregar.

A Culpa Nunca é Minha

 Gente… vocês já repararam que a gente tá vivendo uma fase da humanidade onde… assim… ninguém mais é responsável por absolutamente nada?

Tipo… você chega pra pessoa e fala:

— “Ô, amigo… você bateu no meu carro.”

E ela responde:

— “Cara… olha… a culpa não é minha… é do sistema opressor automotivo capitalista rodoviário urbano. Eu sou uma vítima. Eu sou só uma peça desse jogo cruel.”

E sabe o que é pior? Faz sentido! Tá todo mundo vivendo nesse modo turbo de transferência de culpa. Você não erra! Você foi vítima das circunstâncias, do trânsito, da criação, do signo, de Mercúrio retrógrado, da sociedade, do Enem de 2015, da pandemia, de Vênus, de Plutão — que nem é mais planeta, mas ainda serve pra justificar umas cagadas.

E aí começa o jogo reverso. Porque, veja bem… você não é responsável pelo que faz, mas você é, sim, responsável por tudo o que fizeram… antes de você nascer!

Tipo… você tá ali, pagando seu boleto, cuidando da sua vida… e vem alguém e fala:

— “Olha… sabe aquele erro cometido em 1635… na terceira quarta-feira do mês, às 14h?”

— “Ahn… não?”

— “Pois é, irmão… a culpa é sua.”

É isso, galera. A gente virou uma geração de… culpados inocentes! Você nunca fez nada, mas tá sempre devendo alguma coisa. É como nascer já negativado no SPC moral da humanidade.

E não importa o que você faça. Se você acerta, é privilégio. Se você erra, é opressão. Se você fica quieto, é conivência. Se você fala, é abuso. Se você respira…

— “Respirando aí, né? Olha só o quanto de oxigênio você tá tirando dos outros… egoísta.”

E é uma maravilha, porque dá pra usar isso em tudo na vida!

Por exemplo… casamento.

— “Amor, por que você não lavou a louça?”

— “Poxa… olha… eu até ia lavar… mas eu tô lidando aqui com traumas geracionais, sabe? Questões estruturais. Isso aqui não é só uma pia, é uma reprodução simbólica da opressão histórica dos sistemas domésticos patriarcais…”

E funciona. Quer dizer… não funciona. Mas a gente tenta.

Agora, imagina se isso fosse retroativo MESMO…

Você tá lá, andando na rua, vem um cara do nada e fala:

— “Ô, parceiro… seu tataravô chutou meu tataravô lá em 1800… bora resolver isso aí.”

— “Ahn?! Mas nem sei quem ele era!”

— “Azar. Herança emocional, irmão. Me paga um combo no Outback que tamo quitado.”

E, no fim, a vida vira isso. Um jogo de quem terceiriza melhor.

Eu erro? Claro que erro. Mas se errar, já tenho o texto pronto:

— “Não sou eu, é meu mapa astral. Fala com ele.”

Aliás… se vocês não rirem dessa piada, lembrem-se:

A culpa não é minha… é de vocês.