Há uma árvore na rua da minha infância.
Quando eu era criança, ela parecia imensa, inalcançável, quase um
monumento da natureza. Seus galhos desenhavam no céu um mapa de possibilidades,
e eu, debaixo dela, acreditava que o mundo seria sempre assim: vasto, curioso,
eterno.
Anos depois, passei novamente por aquela rua. A árvore ainda estava lá.
Menor, talvez — ou será que fui eu que cresci? Suas folhas já não dançavam com
a mesma leveza, e alguns galhos carregavam o peso do tempo. Ainda assim, ela
seguia ali, testemunha silenciosa dos passos que vêm e vão, dos risos, das
despedidas e dos recomeços.
Foi ali, olhando para ela, que me caiu a ficha: tudo na vida é ciclo. O
que nasce, cresce, floresce… depois murcha, se despede e, de algum jeito, volta
a nascer — seja na memória, no afeto ou nas sementes que espalha.
Nós somos como essa árvore. Chegamos pequenos, com sede de mundo.
Crescemos, estendemos nossos galhos, criamos raízes, acolhemos amores,
enfrentamos tempestades, nos despimos no outono da vida e, quando chega o
inverno da alma, aprendemos que até a ausência tem seu lugar na dança da
existência.
Depois, sem perceber, viramos parte da paisagem de alguém. Uma lembrança,
um cheiro de café, uma fotografia esquecida, uma palavra que ensinamos sem
saber. E assim seguimos… entre idas e vindas, entre cheios e vazios, compondo
esse grande tecido invisível que é o ciclo da vida.
Porque a vida não se encerra, ela se reinventa — em nós, nos outros, no
mundo que deixamos quando já não estamos.
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