Existe um inimigo silencioso que habita nossos dias, nossas escolhas e,
principalmente, nossos pensamentos. Ele não tem rosto, não tem forma definida,
mas é mestre em erguer muralhas invisíveis. Se disfarça de prudência, de
cuidado, de senso lógico. Mas, na verdade, é só medo — esse velho conhecido que
insiste em puxar nossas rédeas quando o caminho pede coragem.
O medo cria fantasmas. E, ironicamente, nós, muitas vezes, acreditamos
neles mais do que na nossa própria força. É curioso como ele tem a habilidade
de transformar possibilidades em ameaças, sonhos em riscos, desejos em delírios
irresponsáveis. E assim, vamos nos afastando das escolhas que poderiam mudar
tudo, só porque uma voz interna cochicha: “E se der errado?”
Quantas vezes deixamos de tentar, de dizer, de ser… só para não enfrentar
a possibilidade do fracasso? E o mais cruel é perceber que, na maioria das
vezes, sofremos por coisas que sequer acontecem. O medo cria cenários, escreve
roteiros, produz dramas que só existem dentro da nossa cabeça. E enquanto
estamos ocupados demais lidando com esses filmes mentais, a vida vai passando —
sem pausa, sem retorno, sem reprise.
O medo nos paralisa, sim. Nos limita. Nos faz esquecer até que temos
direitos. Direito de sonhar, de tentar, de errar, de recomeçar. Direito de
existir por inteiro, sem as amarras que essa sombra impõe.
Mas é preciso olhar de frente. Desvendar o que, de fato, nos amedronta.
Entender se o perigo é real ou se foi construído, tijolo por tijolo, dentro
desse labirinto que chamamos de mente. E, principalmente, é preciso dar um
passo — mesmo tremendo. Porque, no fim, o que o medo mais teme é ser encarado.
Ele encolhe diante de quem não recua.
Então, talvez, o segredo não seja eliminar o medo, mas aprender a fazer
com que ele tenha medo de nós. De nossa coragem. De nossa disposição em viver,
apesar dos riscos. Apesar dos tropeços. Apesar de tudo.
E que, se houver muralhas, que sirvam não para nos aprisionar, mas para escalarmos e vermos, do alto, o tanto de vida que ainda nos espera.
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