terça-feira, 27 de maio de 2025

O Medo e Suas Muralhas Invisíveis

Existe um inimigo silencioso que habita nossos dias, nossas escolhas e, principalmente, nossos pensamentos. Ele não tem rosto, não tem forma definida, mas é mestre em erguer muralhas invisíveis. Se disfarça de prudência, de cuidado, de senso lógico. Mas, na verdade, é só medo — esse velho conhecido que insiste em puxar nossas rédeas quando o caminho pede coragem.

O medo cria fantasmas. E, ironicamente, nós, muitas vezes, acreditamos neles mais do que na nossa própria força. É curioso como ele tem a habilidade de transformar possibilidades em ameaças, sonhos em riscos, desejos em delírios irresponsáveis. E assim, vamos nos afastando das escolhas que poderiam mudar tudo, só porque uma voz interna cochicha: “E se der errado?”

Quantas vezes deixamos de tentar, de dizer, de ser… só para não enfrentar a possibilidade do fracasso? E o mais cruel é perceber que, na maioria das vezes, sofremos por coisas que sequer acontecem. O medo cria cenários, escreve roteiros, produz dramas que só existem dentro da nossa cabeça. E enquanto estamos ocupados demais lidando com esses filmes mentais, a vida vai passando — sem pausa, sem retorno, sem reprise.

O medo nos paralisa, sim. Nos limita. Nos faz esquecer até que temos direitos. Direito de sonhar, de tentar, de errar, de recomeçar. Direito de existir por inteiro, sem as amarras que essa sombra impõe.

Mas é preciso olhar de frente. Desvendar o que, de fato, nos amedronta. Entender se o perigo é real ou se foi construído, tijolo por tijolo, dentro desse labirinto que chamamos de mente. E, principalmente, é preciso dar um passo — mesmo tremendo. Porque, no fim, o que o medo mais teme é ser encarado. Ele encolhe diante de quem não recua.

Então, talvez, o segredo não seja eliminar o medo, mas aprender a fazer com que ele tenha medo de nós. De nossa coragem. De nossa disposição em viver, apesar dos riscos. Apesar dos tropeços. Apesar de tudo.

E que, se houver muralhas, que sirvam não para nos aprisionar, mas para escalarmos e vermos, do alto, o tanto de vida que ainda nos espera. 

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