Há pesos que não se veem.
Pesos que chegam sem aviso, sem convite, sem dono declarado.
Pesos que se arrastam nas solas dos dias, nas conversas vazias, nos olhares que acusam — sem saber exatamente a quem.
Vivo num tempo onde as culpas são herança,
E as escolhas, simples fuga.
Onde se esquece que cada ato carrega sua própria assinatura,
Mas se espera que a dor tenha CPF coletivo.
Carrego nas costas fantasmas que não conheci.
Culpas de erros que não cometi.
Súplicas de um passado que nunca foi meu,
Mas que, de algum modo estranho, alguém decidiu me oferecer — sem perguntar se cabia.
E enquanto uns pintam suas feridas de bandeiras,
Outros colecionam dedos apontados,
Nessa ciranda onde ninguém erra,
E todos, de algum modo, estão errados.
Mas me recuso.
Me recuso a ser eco do que não fui.
Me recuso a calar meu presente,
Por gritos que não nasceram da minha garganta.
Que cada qual arque com seus próprios silêncios,
Com seus próprios abismos,
Com seus próprios passos.
E que eu, você, nós,
Possamos seguir — livres dos fardos que não são nossos.
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