sexta-feira, 30 de maio de 2025

Silenciosamente, nos salvamos

Dizem por aí que ninguém vem para te salvar.

Que cada um carrega o peso do próprio fardo, que somos ilhas à deriva no meio desse mar chamado vida.

Mas… não sei se concordo.

Penso, olhando pra trás, em quantas vezes fui salvo — por quem nem sequer sabia.

Um sorriso qualquer, vindo de um estranho apressado na rua, que sem saber acalmou o meu dia pesado.

O olhar sereno de um animal que me percebeu além das palavras, além da superfície, como se entendesse dores que nem eu sabia explicar.

Uma frase solta num livro, que encontrou exatamente o ponto onde eu mais doía e, sem pedir licença, costurou um pouco da minha alma.

Ou aquela música…

Ah, aquela música…

Que disse tudo o que meu silêncio guardava.

Que me abraçou quando ninguém mais pôde.

E, às vezes, nem é preciso muito.

Basta o olhar de um amigo atento no instante certo.

Basta o gesto simples de alguém que nem imagina o tamanho daquilo que ofereceu.

E eu entendi, enfim, que estamos todos, de alguma forma, silenciosamente… nos salvando.

Com migalhas de afeto.

Com toques que não se veem, mas que atravessam.

Com palavras que não se dizem, mas que ecoam.

Talvez a gente não precise ser herói de ninguém.

Basta ser presença.

Basta ser cuidado disfarçado de gesto simples.

Basta ser aquele sopro de leveza no dia pesado de alguém.

No fim das contas, é assim que seguimos.

Cada um, sem saber, sendo a mão que impede a queda do outro.

E é assim, no silêncio, que nos salvamos.


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