Vivemos na era dos inocentes-culpados.
A fórmula é simples: eu não sou responsável pelo que faço, mas você é responsável por aquilo que eu sinto.
Erros, falhas, escolhas ruins?
Culpa do sistema, da infância, do governo, da sociedade.
Responsabilidade virou artigo de luxo — coisa de quem ainda acredita em caráter, em ética, em compromisso consigo mesmo.
Enquanto isso, cresce uma indústria robusta de transferências.
Transferência de culpa, de trauma, de dívida moral.
Se você nasceu no grupo errado, na cor errada, na classe errada, na geração errada — parabéns: a conta é sua, mesmo que você nunca tenha assinado esse boleto.
Viramos especialistas em esculpir vilões genéricos.
Vilões que não têm rosto, nem nome, nem CPF — são coletivos, fluidos, fáceis de odiar.
E, de quebra, essa caça às bruxas contemporânea permite que cada um fuja da própria responsabilidade, enquanto aponta para a do vizinho.
A ironia?
Numa sociedade onde ninguém é culpado,
Acabamos todos condenados.
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