Outro dia, parei no meio da rua para amarrar o cadarço. Um gesto simples, automático. Mas, ao erguer a cabeça, reparei nas pessoas que passavam — apressadas, rostos tensos, olhos voltados para algum lugar que parecia mais importante do que o agora. Ninguém ali parecia disposto a olhar para o céu, sentir o vento ou até mesmo reparar no velho senhor que vendia flores na esquina, com um sorriso que contrastava com a pressa do mundo.
“Por
que tanta pressa, se a beleza está no percurso?”
Essa
pergunta veio como um sussurro, desses que a vida murmura quando a gente
resolve parar por um instante. E foi impossível não pensar no quanto nos
tornamos corredores incansáveis de uma maratona sem linha de chegada clara.
Vivemos
em função do depois: depois que eu terminar isso, depois que eu conseguir
aquilo, depois que eu me estabilizar, depois que eu for feliz. Como se a
felicidade fosse um ponto distante no horizonte, e não algo que se esconde nos
detalhes que ignoramos todos os dias.
A
gente corre. Corre pra chegar no trabalho, pra terminar os estudos, pra
alcançar metas, pra responder mensagens, pra não “perder tempo”. Mas, no fundo,
o tempo que mais se perde é justamente aquele que poderia ter sido vivido com
presença.
Tem
gente que só percebe o pôr do sol bonito quando está de férias. Que só nota a
risada dos filhos quando eles crescem. Que só valoriza o silêncio quando ele já
virou saudade. E talvez o problema não seja a falta de tempo — mas o excesso de
urgência que colocamos em tudo.
Porque
a beleza, essa coisa sutil e quase imperceptível, mora nas margens. No café com
calma, na conversa sem pressa, no olhar demorado, no caminhar sem destino. Mora
nos desvios, nos tropeços, até nas pausas inesperadas.
Talvez
a vida nunca tenha sido sobre chegar. Talvez ela seja sobre caminhar com olhos
abertos. Sobre andar devagar o bastante pra sentir o cheiro do pão saindo do
forno, ouvir a música de um violão tocado na varanda, perceber o sorriso tímido
de quem cruzou seu caminho por acaso.
A
beleza está no percurso. Sempre esteve. A gente é que anda rápido demais para
enxergar.
Então,
da próxima vez que se perguntar se vale a pena parar, lembre-se: às vezes, é no
passo lento que a vida revela sua face mais bonita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário