quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Pressa dos Dias

Outro dia, parei no meio da rua para amarrar o cadarço. Um gesto simples, automático. Mas, ao erguer a cabeça, reparei nas pessoas que passavam — apressadas, rostos tensos, olhos voltados para algum lugar que parecia mais importante do que o agora. Ninguém ali parecia disposto a olhar para o céu, sentir o vento ou até mesmo reparar no velho senhor que vendia flores na esquina, com um sorriso que contrastava com a pressa do mundo.

“Por que tanta pressa, se a beleza está no percurso?”

Essa pergunta veio como um sussurro, desses que a vida murmura quando a gente resolve parar por um instante. E foi impossível não pensar no quanto nos tornamos corredores incansáveis de uma maratona sem linha de chegada clara.

Vivemos em função do depois: depois que eu terminar isso, depois que eu conseguir aquilo, depois que eu me estabilizar, depois que eu for feliz. Como se a felicidade fosse um ponto distante no horizonte, e não algo que se esconde nos detalhes que ignoramos todos os dias.

A gente corre. Corre pra chegar no trabalho, pra terminar os estudos, pra alcançar metas, pra responder mensagens, pra não “perder tempo”. Mas, no fundo, o tempo que mais se perde é justamente aquele que poderia ter sido vivido com presença.

Tem gente que só percebe o pôr do sol bonito quando está de férias. Que só nota a risada dos filhos quando eles crescem. Que só valoriza o silêncio quando ele já virou saudade. E talvez o problema não seja a falta de tempo — mas o excesso de urgência que colocamos em tudo.

Porque a beleza, essa coisa sutil e quase imperceptível, mora nas margens. No café com calma, na conversa sem pressa, no olhar demorado, no caminhar sem destino. Mora nos desvios, nos tropeços, até nas pausas inesperadas.

Talvez a vida nunca tenha sido sobre chegar. Talvez ela seja sobre caminhar com olhos abertos. Sobre andar devagar o bastante pra sentir o cheiro do pão saindo do forno, ouvir a música de um violão tocado na varanda, perceber o sorriso tímido de quem cruzou seu caminho por acaso.

A beleza está no percurso. Sempre esteve. A gente é que anda rápido demais para enxergar.

Então, da próxima vez que se perguntar se vale a pena parar, lembre-se: às vezes, é no passo lento que a vida revela sua face mais bonita.

Nenhum comentário: