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Acordar cedo nunca foi o problema. O difícil sempre foi começar o dia sem poesia. Havia pão, havia café, havia pressa — mas faltava cuidado.
Nos últimos tempos, percebi que os cafés da manhã estavam se tornando apenas um intervalo entre o sono e a correria, como se fosse um ritual sem importância, um degrau apressado para chegar ao trabalho, às obrigações, às notícias urgentes que ninguém pediu para ouvir.
Até que um dia, sentei-me à mesa sem pressa. Coloquei a toalha que quase nunca usava, preparei frutas cortadas com delicadeza, o café feito com calma, o pão aquecido, um silêncio que não pesava. Foi um café da manhã diferente, quase uma celebração de algo simples demais para ser celebrado — mas necessário.
E ali compreendi: precisamos de mais cafés da manhã caprichados. Não falo do exagero, mas do gesto de começar o dia lembrando que a vida não é só sobre correr, mas também sobre apreciar. Um café da manhã bem servido é quase uma oração: diz ao corpo que ele merece cuidado, e à alma que ela não precisa começar o dia em guerra.
Talvez seja isso: o mundo não precisa de mais velocidade, mas de mais pausas. Mais xícaras cheias. Mais mesas arrumadas com afeto. Mais manhãs em que se olha para o outro e se diz: “Comece o dia devagar, eu preparei isso para você.”
Porque, no fundo, o que precisamos mesmo não é de comida — é de gesto.
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