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O problema não é ser intenso, é que o mundo se acostumou com o raso.
Tem gente que olha para quem sente demais como se fosse um exagero ambulante. É o tipo de olhar que pesa, mede e conclui: “calma, você está indo longe demais”. Mas não é que a gente esteja indo longe demais… é que a maioria parou no raso e se esqueceu como é mergulhar.
Vivemos numa época em que tudo é embalado para consumo rápido: conversas curtas, amores descartáveis, opiniões de micro-ondas. Ninguém quer esperar a água ferver, ninguém quer que o café passe no tempo certo, ninguém quer que um afeto amadureça no silêncio confortável de uma presença. É tudo agora, já, com o mínimo de profundidade possível — para não incomodar, não criar vínculo, não correr o risco de sentir.
Ser intenso, então, virou quase um ato de resistência. É falar com brilho nos olhos quando todos estão olhando para o celular. É se importar mesmo quando o protocolo manda ser indiferente. É ter coragem de dizer “eu sinto”, “eu quero”, “eu sofro”, enquanto a maioria prefere esconder atrás de filtros e frases prontas.
O mundo se acostumou com o raso porque o raso não exige fôlego. Mas quem já provou das águas profundas sabe que é lá embaixo, longe da superfície, que a vida guarda seus segredos mais bonitos.
No fim, não é sobre “diminuir” para caber no espaço que nos dão. É sobre continuar sendo oceano, mesmo que o mundo só esteja preparado para poças.
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