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Há homens que vivem meticulosamente. São organizados com as contas, previsíveis nas palavras, firmes nos passos, constantes nos hábitos. Homens que mantêm o coração sob rédeas curtas, como se o sentir fosse um cavalo selvagem demais para ser confiável. Preferem a segurança dos mapas às surpresas dos labirintos. Mas o amor… o amor não anda em linha reta.
O homem que não amou apaixonadamente talvez nunca tenha sentido o abismo suave de um olhar que desarma. Nunca tremeu as mãos antes de um beijo, nunca perdeu o sono por causa de um nome sussurrado pela memória. Viveu, é verdade. Mas viveu em preto e branco. Ignorou a metade mais formosa da existência, aquela em que o coração acelera sem razão lógica, onde se dança sem música, onde a alma se despe sem medo do que será visto.
Amar com paixão é perder o controle e, ainda assim, se sentir inteiro. É se permitir errar com doçura, chorar com beleza, sorrir com a alma. É escrever cartas que jamais serão enviadas, é ouvir músicas que carregam nomes ocultos, é guardar perfumes em memórias.
O homem que não se permitiu amar assim talvez nunca tenha sentido a primavera florescer dentro do peito. Talvez tenha passado pela vida como quem passa por um jardim fechado, sentindo apenas o cheiro das flores sem jamais tocá-las. Por medo. Por orgulho. Por querer demais o chão firme e esquecer que, às vezes, é preciso voar.
Mas, cedo ou tarde, a vida cobra. E o que ela cobra não é a conta dos erros, mas a ausência das coragens. O arrependimento maior não costuma ser o de ter amado demais — mas o de ter amado de menos.
Porque quem ama com paixão, ainda que perca, nunca sai de mãos vazias.
Talvez, no fim, a metade mais formosa da existência seja justamente essa: amar até transbordar — mesmo sem garantias, mesmo com cicatrizes. Porque é assim que a vida ganha cor, e o coração, verdade.
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