. . .
Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem.
Essa frase ecoa como um sussurro incômodo num tempo em que barulhos demais tentam nos convencer de que já sabemos tudo. Vivemos a era das respostas rápidas — em um clique, um toque, um atalho. Mas, ironicamente, quanto mais rápido tudo parece, mais devagar caminhamos rumo à compreensão verdadeira das coisas que realmente importam.
Questionar é o que nos move. É o que nos tira do lugar comum, que nos obriga a encarar o espelho daquilo que somos e, às vezes, daquilo que fingimos ser. Uma sociedade que para de perguntar se acomoda. E a acomodação é um tipo disfarçado de desistência.
Por que tanta desigualdade?
Por que há fome onde há excesso?
Por que a arte é silenciada?
Por que o medo tem sido mais rentável que a esperança?
Por que temos medo das perguntas?
São interrogações que incomodam, sim. Mas são essas que deveriam ser colocadas na mesa, entre o pão e o café, nos noticiários e nas salas de aula, nas conversas de bar e nas reuniões sérias. Perguntas não são ameaças. São janelas.
O problema é que aprenderam a nos ensinar que perguntar é um ato de rebeldia, quando, na verdade, é um exercício de cidadania, de maturidade, de pertencimento ao mundo. Não há avanço onde não há dúvida. Não há progresso onde não há desconforto. E, acima de tudo, não há liberdade onde não se pode perguntar.
A sociedade que cala suas perguntas não silencia os problemas, apenas lhes dá um lugar confortável para crescer. Porque o silêncio nem sempre é paz — às vezes, é conivência.
Voltar a perguntar é, portanto, um ato de esperança. É sinal de que ainda acreditamos que podemos ser melhores, que há algo mais além do que nos foi entregue como verdade absoluta. É dizer que o mundo ainda nos importa.
Então, que sejamos, todos nós, um pouco mais inquietos. Que cultivemos o incômodo saudável de quem não aceita o absurdo como normal. Que saibamos que toda grande resposta começou com uma pergunta incômoda. E que, enquanto houver quem pergunte, ainda há chance de mudança.
Porque uma sociedade que pergunta é, no fundo, uma sociedade que ainda quer viver de verdade.