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quarta-feira, 9 de julho de 2025

🕺🏼O Baile das Nossas Versões

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A frase "Nas entrelinhas do tempo, colecionamos versões de existir" parece um cochicho vindo de um livro antigo, empoeirado, mas que guarda a essência de tudo o que somos. E não é que é verdade? Pense bem, quem somos hoje não é exatamente quem éramos há dez anos. Nem sequer quem éramos ontem à noite. A gente se transforma, se desdobra, se embola e se desenrola em um sem-fim de versões.

Tem a versão criança, com os joelhos ralados e o coração cheio de perguntas. Aquela que acreditava em fada do dente e que o mundo cabia na palma da mão. Ela está guardada, com certeza, no sótão das nossas lembranças, cheirando a giz de cera e promessas esquecidas.

Depois vem a versão adolescente, um turbilhão de emoções, de primeiras vezes, de paixões avassaladoras e decepções que pareciam o fim do mundo. Essa versão é meio rebelde, meio incompreendida, e dança numa balada imaginária com os fones de ouvido no volume máximo, ignorando conselhos e buscando a própria voz. Ela ainda dá as caras quando escutamos aquela música antiga ou nos deparamos com uma foto desbotada.

E a versão jovem adulto? Essa é a mais confusa de todas. Tentando achar o próprio rumo, errando mais do que acertando, mas com uma energia que move montanhas. É a versão que aprendeu a pagar as próprias contas, a cozinhar (mais ou menos) e a lidar com as responsabilidades que a vida adulta impõe. Ela está sempre por perto, vez ou outra, sussurrando um "e se?" ou um "vai dar tudo certo".

À medida que os anos avançam, as versões se multiplicam. Tem a versão profissional, a versão amigo, a versão parceiro, a versão pai ou mãe. Cada uma com suas nuances, suas cicatrizes, suas alegrias e suas dores. Algumas são mais polidas, outras mais brutas. Algumas se encaixam perfeitamente, outras vivem em atrito.

O mais fascinante é que todas essas versões coexistem. Não é que uma anula a outra. Pelo contrário, elas se somam, se entrelaçam, formam um caleidoscópio complexo e fascinante que é a nossa própria identidade. Às vezes, a versão mais antiga dá um puxão de orelha na mais nova. Em outros momentos, a mais jovem inspira a mais experiente a se arriscar novamente.

Navegamos nas entrelinhas do tempo, folheando as páginas da nossa própria história. E em cada virada, em cada vírgula, em cada ponto final, surge uma nova versão. Ou uma antiga se reinventa. O que importa é que essa coleção nunca para de crescer. E é essa coleção, essa dança de "eus" múltiplos, que nos torna tão profundamente humanos. E tão bonitos.

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