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sábado, 5 de julho de 2025

✉️Convite à clareza e à intencionalidade

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A frase de David Allen, "VOCÊ PODE FAZER O QUE QUISER - MAS NÃO TUDO O QUE QUISER", é um soco no estômago da ilusão da onipotência e, ao mesmo tempo, um abraço caloroso na realidade da liberdade. É uma dessas verdades que, de tão óbvias, nos escapam na correria do dia a dia. Vivemos em uma era que celebra o "tudo é possível", o "vá e conquiste o mundo", e isso é, em parte, libertador. Mas Allen, com a simplicidade de um mestre, nos lembra do fator limitante: tempo, energia, recursos e, fundamentalmente, as escolhas.

Podemos, de fato, mirar alto. Podemos sonhar em escalar o Everest, escrever um best-seller, dominar três idiomas, construir uma empresa de sucesso, ter uma família perfeita e ainda assim encontrar tempo para maratonas de séries e meditação diária. A capacidade de escolher um desses caminhos – ou vários deles – é um poder imenso, a essência da nossa autonomia. Ninguém nos impede de decidir que amanhã começaremos a aprender mandarim ou a treinar para uma maratona. Essa é a parte do "você pode fazer o que quiser". É a porta aberta para o infinito de possibilidades que a vida nos apresenta.

O nó górdio, a parte que nos causa angústia e nos joga no precipício da frustração, é a segunda parte da frase: "mas não tudo o que quiser". Ah, o "tudo"! É aqui que a realidade nos encontra, nos puxa pela gola e nos força a encarar uma verdade inegável: escolher um caminho significa, invariavelmente, renunciar a outros. Se eu dedico minhas horas a me tornar um grande músico, talvez tenha que abrir mão de ser um exímio chef. Se invisto minha energia em construir uma carreira sólida, talvez precise sacrificar um pouco do meu tempo livre com a família, ou vice-versa.

Essa é a grande lição de Allen: a disciplina da renúncia. Não se trata de uma limitação imposta, mas de uma necessidade intrínseca à produtividade e ao bem-estar. A ansiedade moderna muitas vezes brota justamente da tentativa inglória de abraçar o mundo inteiro. Queremos tudo, e queremos para ontem. E quando percebemos que o dia só tem 24 horas, que nosso corpo e mente têm limites, a frustração se instala. Sentimos que estamos falhando por não conseguir realizar tudo que nos propomos ou que a sociedade nos impõe como ideal.

A sabedoria, portanto, reside em reconhecer essa dualidade. Em celebrar a vasta gama de opções disponíveis e, ao mesmo tempo, exercer a difícil, mas libertadora, arte de priorizar. De entender que o foco e a excelência nascem da escolha consciente do que realmente importa para nós, neste momento da vida. Não se trata de falta de ambição, mas de uma inteligência prática: saber que, ao concentrar a luz em um ponto, ele brilhará com mais intensidade.

No fim das contas, a frase de David Allen é um convite à clareza e à intencionalidade. Ela nos lembra que o poder não está em abraçar todas as possibilidades, mas em selecionar com sabedoria as que realmente ressoam com nossos valores e objetivos. E, ao fazer isso, descobrir que a verdadeira plenitude não está em ter tudo, mas em fazer o que se escolheu, com paixão e dedicação, no espaço finito da nossa existência.

Como você tem lidado com a "arte da renúncia" em sua própria vida? Qual tem sido o maior desafio?

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