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Kahlil Gibran, com a profundidade poética que lhe era peculiar, acerta em cheio um ponto nevrálgico da condição humana: "Nossa ansiedade não vem do pensamento sobre o futuro, mas sobre a vontade de controlá-lo." Essa frase não é apenas uma observação; é um diagnóstico preciso do que aflige muitos de nós em um mundo cada vez mais incerto.
É comum associarmos a ansiedade diretamente à incerteza do amanhã. Pensamos: "Estou ansioso porque não sei o que vai acontecer." No entanto, Gibran nos convida a ir mais fundo, a desvendar a verdadeira raiz desse mal-estar. A ansiedade não brota simplesmente do desconhecido, mas da nossa resistência visceral em aceitar o que não podemos moldar. Queremos prever cada passo, garantir cada resultado, blindar-nos contra qualquer adversidade.
Essa vontade de controle é, em si, uma ilusão. A vida, por sua natureza intrínseca, é um rio que corre, sinuoso e imprevisível. Planejamos, sim, e é saudável fazê-lo. Estabelecemos metas, traçamos estratégias. Mas quando essa necessidade de planejar transborda para uma obsessão por controlar cada variável, cada nuance do futuro, é aí que a ansiedade finca suas raízes. Tentamos amarrar as pontas soltas de um tecido que jamais será totalmente preso, e o esforço infrutífero nos esgota.
O futuro, por mais que tentemos enquadrá-lo em nossos cenários ideais, sempre guardará suas surpresas. A economia pode mudar, as relações podem se transformar, a saúde pode oscilar. A nossa incapacidade de controlar esses elementos gera uma frustração silenciosa que se manifesta como ansiedade. É o paradoxo: quanto mais tentamos controlar o incontrolável, mais nos sentimos impotentes e, consequentemente, mais ansiosos.
A reflexão de Gibran é um convite à rendição inteligente. Não se trata de passividade ou de não se importar com o amanhã. Pelo contrário. Trata-se de aceitar a dança da vida, de fazer a nossa parte com diligência e, então, soltar. É reconhecer que há forças maiores em jogo, que nem tudo está em nossas mãos e que a beleza da existência reside também na sua fluidez e nas suas reviravoltas inesperadas.
Libertar-se da ilusão do controle é abrir espaço para a confiança. Confiança em nossa capacidade de adaptação, na resiliência inata do ser humano e no fluxo da própria vida. É compreender que, por mais que planejejamos o caminho, a jornada é vivida um passo de cada vez. E nesses passos, ao invés de tentarmos forçar a direção, podemos nos permitir estar presentes, responder aos desafios com flexibilidade e encontrar a paz no coração da incerteza.
Como você acredita que a aceitação do incontrolável pode mudar a sua percepção e reação diante dos desafios do dia a dia?
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