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As pessoas se acostumaram a julgar com pressa, a responder sem pensar e a agir como se estivessem sempre do lado certo da história. Vivemos numa era de dedos apontados, de opiniões cuspidas com força, como se ferir o outro fosse sinônimo de força ou autenticidade. Mas poucos — bem poucos — param para se perguntar:
“E se fosse o contrário, eu gostaria?”
Essa pergunta simples, quase infantil, tem o poder de desarmar os orgulhosos e iluminar os cegos por vaidade. Mas é justamente por isso que tantos a evitam. Porque quando você se coloca no lugar do outro, é obrigado a enxergar mais do que o seu próprio umbigo. É obrigado a sentir.
Imagine um patrão que grita com o funcionário em público.
E se fosse o contrário?
E se ele fosse exposto, humilhado diante de todos por um erro humano?
Será que aceitaria com a mesma arrogância?
Pense em quem fecha o carro no trânsito e depois xinga como se fosse dono da rua.
E se fosse o contrário?
Será que toleraria ser tratado como nada, como mais um obstáculo no caminho de alguém apressado demais para ser gentil?
E aquele que julga alguém pela aparência, pela roupa, pela cor, pelo jeito de amar, pelo lugar de onde vem.
E se fosse o contrário?
Será que aguentaria o peso dos olhos tortos, dos cochichos, da exclusão disfarçada de opinião?
A verdade é que muito do que fazemos aos outros não suportaríamos que fosse feito conosco.
Mas seguimos. Batendo portas, cancelando afetos, zombando da dor alheia, achando bonito o sarcasmo que ofende, achando engraçado o deboche que humilha.
Falta empatia? Sim.
Mas talvez falte algo ainda mais básico: honestidade emocional.
Essa coragem de se olhar no espelho e admitir que, se os papéis se invertessem, você talvez implorasse por mais compreensão.
“E se fosse o contrário?” não é apenas uma pergunta. É um freio. Uma ponte. Um sinal vermelho em meio à pressa de ser melhor do que os outros.
Se mais gente pensasse assim, talvez a gentileza deixasse de ser exceção.
E a humanidade… enfim, voltasse a ser humana.
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