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É, a preguiça de se explicar é um bicho traiçoeiro. Ela chega de mansinho, muitas vezes disfarçada de cansaço ou de um "não vale a pena". A gente pensa: "Ah, que se exploda, que pensem o que quiserem". E na hora, parece uma libertação, um alívio do peso de ter que moldar palavras, encontrar a nuance certa, desenrolar o novelo emaranhado que é a própria verdade.
Mas o tempo passa, e o que era alívio vira um vazio estranho. Porque enquanto a gente se cala, a mente do outro está em pleno vapor, preenchendo as lacunas com as próprias suposições, os próprios medos, as próprias interpretações. E essas versões, muitas vezes, são bem mais distorcidas do que a realidade. Elas criam monstros onde havia apenas um rato, dramas shakespearianos onde rolava uma simples desatenção.
O Preço da Inação
E o preço dessa inação, daquela preguiça inicial, começa a ser cobrado. Um mal-entendido vira um abismo. Uma relação que parecia sólida começa a ranger, silenciosamente, por falta de um ponto final, de uma vírgula, de um parêntese que só a nossa voz poderia colocar. A gente se vê emaranhado numa teia de percepções alheias, e o pior é que fomos nós mesmos que fornecemos o fio invisível para que ela fosse tecida.
A Coragem de Dissipar as Sombras
Explicar-se não é sempre fácil. Requer coragem para encarar o julgamento, a incompreensão, ou até mesmo a própria vulnerabilidade. Mas é também um ato de generosidade, um convite à clareza, à conexão genuína. É a chance de dissipar as sombras que a falta de palavras cria. É a oportunidade de ser visto, de verdade, sem filtros criados pela imaginação alheia.
No fim das contas, talvez a preguiça de se explicar seja, paradoxalmente, um dos maiores esforços que fazemos. O esforço de carregar o peso do não-dito, das interpretações equivocadas, da distância que nasce da ausência de uma ponte de palavras. E talvez, só talvez, valha a pena o pequeno esforço de construir essa ponte, mesmo que seja com poucas e certeiras palavras. O que você acha?
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