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quinta-feira, 10 de julho de 2025

📝Cicatrizes Invisíveis, Histórias Infinitas

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Somos sobreviventes. A frase ecoa em silêncio, talvez em alto e bom som, dentro de cada um de nós. Mas o que significa "sobreviver"? Não se trata apenas de ter escapado de um desastre natural, de uma doença grave, ou de um acidente que quase nos tirou a vida. A sobrevivência de que falamos é mais sutil, mais profunda, e muitas vezes, completamente invisível aos olhos alheios. Somos sobreviventes de histórias que as pessoas nem imaginam.

Quantas vezes carregamos o peso de um passado turbulento, de uma perda devastadora, de uma traição que marcou a alma, e seguimos em frente com um sorriso no rosto? Quantas noites passamos em claro, digerindo dores que ninguém soube que existiam, para amanhecer e encarar o mundo como se tudo estivesse em perfeita ordem? Somos mestres na arte de camuflar nossas batalhas internas, de vestir a armadura da normalidade e de desfilar por entre a multidão, cada um com seu próprio universo de cicatrizes.

As pessoas veem o que mostramos: o sucesso profissional, a alegria momentânea, a aparente tranquilidade. Não veem as noites insones passadas reconstruindo a autoestima estilhaçada, as lágrimas silenciosas derramadas por sonhos desfeitos, o esforço hercúleo para perdoar o imperdoável. Não percebem que, por trás da fachada polida, existe um arsenal de memórias, de superações diárias, de resiliência construída tijolo por tijolo após cada colapso.

E essa invisibilidade é, por vezes, um escudo. Uma forma de proteção contra a curiosidade alheia, contra o julgamento, contra a pena. Mas é também um fardo. A solidão de carregar um fardo pesado, sem que ninguém o perceba, pode ser tão exaustiva quanto a própria dor que o gerou.

No entanto, essa crônica não é um lamento. É um reconhecimento. Um lembrete de que a força humana é um abismo sem fim. De que cada pessoa que cruza nosso caminho carrega consigo um roteiro de vida que mal ousamos decifrar. O colega de trabalho que parece tão seguro, o vizinho que sempre sorri, o familiar que aparenta tanta calma – todos, sem exceção, são compêndios de vitórias silenciosas e de lutas travadas em segredo.

Somos, de fato, sobreviventes. E a maior lição que podemos tirar disso é a da empatia. A capacidade de olhar para o outro e reconhecer que, por trás de cada olhar, existe uma complexidade imensa, uma história de superação que talvez nunca seja contada, mas que merece todo o nosso respeito e compreensão. Que sejamos mais gentis, mais observadores, e que nunca subestimemos a profundidade das histórias que as pessoas carregam, invisíveis aos nossos olhos, mas gravadas a ferro e fogo em suas almas.

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