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terça-feira, 22 de julho de 2025

🗣️O Nó na Garganta e o Papiro Não Escrito

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Clarice Lispector, com sua acuidade habitual, nos oferece uma verdade cortante: "Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras. Ou você as fala, as escreve ou elas te sufocam." Que frase potente, não? É um espelho que nos confronta com as nossas próprias omissões, com os silêncios que cultivamos e com o peso que eles, por vezes, assumem em nossa existência.

 

A crônica da vida de muitos de nós poderia ser escrita com a tinta das palavras não ditas. Quantas vezes o "eu te amo" ficou entalado, o "me desculpe" se dissolveu no ar, ou o "não concordo" virou um nó apertado na garganta? Guardamos palavras como se fossem joias raras, esperando o momento perfeito para exibi-las. Mas, ao contrário das joias, que brilham mesmo na escuridão, as palavras guardadas mofam, perdem o sentido, e o que é pior: se transformam em um fardo silencioso.

A fala é um rio que precisa de vazão. Se represamos demais, a água estagna, fica turva, e a vida que deveria fluir com ela se torna pantanosa. É no ato de verbalizar que as emoções ganham forma, que os pensamentos se organizam, que a alma respira. A expressão não é apenas uma ferramenta de comunicação; é uma necessidade vital, um desabafo que nos impede de implodir.

E a escrita? Ah, a escrita! Ela é o refúgio dos que hesitam em falar, o confessionário silencioso onde podemos despejar sem pudor as nossas verdades mais íntimas. Um diário, um poema, uma carta nunca enviada, um e-mail rascunhado e nunca clicado em "enviar" – todas são tentativas válidas de dar vida às palavras que nos habitam. No papel, elas se eternizam, se transformam em pontes entre o nosso interior e o mundo, mesmo que esse mundo seja apenas nós mesmos lendo e relendo o que foi depositado ali.


O Peso do Silêncio

O sufocamento a que Clarice se refere não é metafórico apenas. É físico, é mental, é espiritual. É a angústia de carregar um segredo que pesa, de não ter expressado um carinho que ficou no ar, de ter engolido uma ofensa que corroeu por dentro. As palavras retidas são como pedras no estômago, tiram o ar, roubam a leveza, e transformam a existência em um constante esforço para respirar.

Perdemos tempo, sim, como Clarice bem apontou. Tempo de sermos autênticos, tempo de nos conectarmos verdadeiramente com o outro, tempo de liberarmos o que nos aprisiona. A lição é simples, mas profunda: a vida é feita de intercâmbios, de trocas, e as palavras são a moeda mais valiosa nesse comércio.

Então, que a sabedoria de Clarice nos sirva de bússola. Que nos inspire a falar quando o coração pede, a escrever quando a mente transborda, e, acima de tudo, a nunca mais permitir que as palavras se tornem um peso sufocante em nossa jornada. Elas merecem voar, ecoar, serem sentidas. E nós, merecemos a liberdade que a sua expressão nos proporciona.

Você concorda que o silêncio pode ser tão pesado quanto as palavras não ditas?

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