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Tão próximos como dezembro e janeiro.
Mas, ao mesmo tempo, tão distantes como janeiro e dezembro.
Existe algo curioso na forma como o tempo se organiza — cronologicamente contínuo, emocionalmente desconexo. Dezembro e janeiro são vizinhos no calendário, separados apenas por um virar de página, um estalo de fogos, uma contagem regressiva. Mas há uma distância invisível entre os dois, um abismo de sensações, expectativas e significados.
Dezembro é fim. É nostalgia em forma de luzes piscando, é um último gole de algo que demoramos o ano inteiro para saborear. É o mês dos reencontros, dos balanços, das perguntas que nos pegam no escuro: “O que eu fiz com o meu tempo?” “Quem eu perdi no caminho?” “O que ficou por dizer?”
Janeiro, por outro lado, é começo. É um caderno em branco com cheiro de esperança. É o mês da promessa e da tentativa. As pessoas acordam cedo, fazem listas, tomam água, dizem que agora vai. Janeiro é cheio de “desta vez”, de “vou tentar de novo”, de “eu mereço recomeçar”.
Mas a verdade é que dezembro e janeiro são, muitas vezes, duas versões da mesma pessoa: uma cansada, outra empolgada; uma olhando para trás, outra forçando o olhar para frente. E nem sempre é fácil fazer essa ponte. Porque entre o último dia de um ano e o primeiro do outro, há mais do que segundos: há sentimentos que não se desfazem com fogos, há dores que não pedem passagem, há sonhos que ainda não sabem se acordaram.
É por isso que, embora tão próximos, dezembro e janeiro podem parecer tão distantes.
Porque nem tudo que muda no calendário muda dentro da gente.
E tudo bem. A vida não é feita de cortes secos. É feita de transições.
Dezembro nos ensina a lembrar. Janeiro nos convida a seguir. E entre os dois, mora o ponto de virada: aquele instante silencioso onde, no fundo do peito, a gente decide tentar de novo.
Mesmo sem saber exatamente como.
Mesmo sem ter certeza se vai dar certo.
Mas tentando — sempre tentando.
Porque é isso que o tempo faz com a gente: nos empurra gentilmente para o próximo capítulo, mesmo que ainda estejamos relendo a última frase do anterior.
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