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Há palavras que machucam, outras que curam, algumas que constroem e tantas que destroem. Mas existe uma linguagem mais antiga, mais profunda, que não precisa de som para ser compreendida: o silêncio.
Na mesa do café da manhã, quando o casal já não se olha nos olhos, o silêncio grita sobre o amor que se foi. Não é preciso discussão, não é necessário briga.
O silêncio entre eles conta a história completa de dois corações que se distanciaram, de sonhos que tomaram rumos diferentes, de uma intimidade que virou apenas convivência.
O silêncio também habita os hospitais. Nos corredores brancos, ele carrega o peso das notícias não ditas, das esperanças suspensas, das orações sussurradas apenas no pensamento. Quando o médico demora para falar, quando a família se reúne sem palavras, o silêncio se torna o protagonista de um drama que todos compreendem, mas ninguém quer nomear.
Mas nem todo silêncio é melancólico. Há o silêncio cúmplice entre amigos, aquele que dispensa explicações. Duas pessoas que se conhecem há décadas podem passar horas juntas sem dizer uma palavra, e ainda assim se sentirem completamente compreendidas. É o silêncio que abraça, que acolhe, que diz “eu estou aqui” sem precisar de voz.
Existe o silêncio da contemplação, quando nos perdemos diante de um pôr do sol ou de uma obra de arte. Nestes momentos, as palavras se tornam pequenas demais para expressar o que sentimos. O silêncio se transforma em reverência, em gratidão, em pura presença.
O silêncio dos que se amam é uma conversa constante. Um olhar que pergunta, outro que responde. Uma mão que encontra outra mão no escuro. O silêncio que diz “eu te amo” sem precisar repetir a frase todos os dias, porque está impresso em cada gesto, em cada cuidado, em cada escolha.
E há o silêncio da injustiça, aquele que nos envergonha. Quando calamos diante do que sabemos estar errado, quando nossa omissão se torna conivência. Este silêncio também fala, e o que ele diz sobre nós nem sempre nos agrada.
Vivemos numa época em que o barulho é constante. Notificações, conversas, música, trânsito, televisão.
Desaprendemos a arte de escutar o silêncio, de habitá-lo sem desconforto. Mas talvez seja justamente no silêncio que encontremos as respostas que procuramos no meio de tanto ruído.
O silêncio não é ausência. É presença pura, concentrada, essencial. É a pausa entre as notas que dá sentido à música. É o espaço entre as palavras que permite que elas respirem. É o vazio que, paradoxalmente, está cheio de significado.
Quando finalmente aprendemos a ouvir o silêncio, descobrimos que ele sempre esteve ali, sussurrando verdades que as palavras não conseguem alcançar. E percebemos que, às vezes, a coisa mais importante que podemos fazer é simplesmente calar e deixar que ele fale por nós.
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