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Tenho aprendido — com a vida, com os outros e comigo mesmo — que a ansiedade é uma das doenças mais silenciosas e cruéis do nosso tempo. Ela não chega gritando, mas se instala devagar, corroendo a alma por dentro. É um ladrão de paz, um veneno que escorre pelos dias e, se não for contido, toma conta de tudo.
Ansiedade adoece. Gera estresse, alimenta a depressão, desestrutura o sono, o apetite, a lucidez. Transforma pensamentos em tempestades e o futuro em ameaça constante. É como se a alma ficasse trancada num quarto sem janelas, sufocando no escuro de suas próprias incertezas.
Esse tema se tornou recorrente em rodas de conversa, noticiários, pesquisas e consultórios. E não é por acaso. Vivemos numa era em que o amanhã precisa acontecer agora e o ontem já não serve mais. Tudo corre depressa. Esperar virou sinônimo de fraqueza. Respirar, um luxo. O tempo, que antes era medida de ciclos e estações, virou um cronômetro cruel de produtividade e performance.
Estamos reféns de uma lógica que glorifica a pressa e despreza o processo. Queremos resultados imediatos, respostas instantâneas, metas atingidas antes mesmo de serem planejadas. Vivemos em ritmo de urgência constante, onde o descanso é visto com culpa e o silêncio, com estranhamento.
É alarmante. E, ao mesmo tempo, triste.
Fala-se muito em saúde mental, mas o que se vê, muitas vezes, são ações protocolares — discursos que soam bem, mas pouco fazem. Empresas adotam campanhas com frases bonitas enquanto mantêm práticas que exaurem seus colaboradores. Pessoas leem textos como este, concordam, mas continuam imersas na mesma roda viva, sem saber como sair.
Porque, no fundo, mudar exige mais que palavras. Exige coragem. Exige parar. E parar, neste mundo que idolatra a velocidade, parece quase um ato de rebeldia.
Mas não dá mais para seguir assim. O corpo, a alma e o pensamento estão gritando por socorro. Estamos perdendo o equilíbrio, a sanidade, a essência. A vida está sendo atropelada por metas, notificações e prazos que não respeitam o ritmo humano.
Se não desacelerarmos, corremos o risco de romper com aquilo que nos ancora. E talvez, nesse caminho sem volta, não nos reconheçamos mais.
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