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Durante muito tempo, fui abrigo sem tranca, coração sem filtro, alma exposta ao mundo como vitrine em dia de liquidação. Qualquer palavra me feria. Qualquer ausência me doía. Eu achava que precisava aceitar tudo, absorver tudo, suportar tudo — como se isso me fizesse mais forte, mais amável, mais humano.
Mas não fazia.
Ser vulnerável ao caos não é sinônimo de sensibilidade. É, muitas vezes, o reflexo de uma falta de cuidado consigo mesmo. E foi preciso que o tempo me sacudisse com suas tempestades para que eu compreendesse o óbvio: não sou obrigado a me deixar desmoronar por tudo o que acontece ao meu redor.
Com o tempo — e com dor —, aprendi que há um valor imenso no silêncio. Que nem todo ataque precisa de defesa. Que o barulho dos outros não pode ser maior que a minha própria paz. E que, sim, paz também se protege. Não com muros altos, mas com limites claros. Não com dureza, mas com discernimento.
Hoje, sei que o que entra na minha vida precisa passar por um critério mais profundo: o do respeito, da leveza, da reciprocidade. Porque tudo aquilo que me arrasta para o fundo, que me tira o fôlego, que não me permite ser eu, não merece permanecer.
E isso não me faz amargo. Me faz inteiro.
As pessoas confundem muito esse tipo de amadurecimento com frieza. Mas quem já teve o coração em ruínas sabe: reconstruir-se exige esforço, coragem, tempo. Não dá pra entregar essa nova versão para qualquer um. Não por vaidade, mas por merecimento.
Não é sobre se fechar. É sobre a se cuidar.
Porque a versão de mim que existe hoje foi feita de cacos colados com paciência, lágrimas limpas com esperança e escolhas feitas em nome da vida que quero viver.
E não há nada mais precioso do que isso.
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