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Acordar é o primeiro milagre. E a gente nem percebe.
Abre os olhos, respira fundo, se espreguiça com aquele certo tédio das segundas-feiras (ou das terças, quartas, da vida), mas raramente pensa: “E se esse fosse o último amanhecer?” Porque a rotina nos acostuma a ignorar os milagres que nos cercam — como se a vida fosse algo garantido, automático, infinito.
Mas nada é garantido.
Levantar da cama, pisar no chão, sentir o frio nos pés, preparar um café e ver a fumaça subindo — tudo isso é milagre. Pequeno, simples, cotidiano. Mas milagre. Porque viver, no fundo, é uma soma de instantes que poderiam não ter acontecido.
Somos feitos de milagres que não estampam manchetes. A mensagem inesperada que chega no dia da tristeza. O abraço que vem quando a solidão se agiganta. O sorriso que brota sem razão. A lágrima que alivia. O silêncio que acolhe. A música que toca o que as palavras não alcançam. A coragem que surge mesmo no medo. E a fé que persiste mesmo sem explicação.
Milagre não é, necessariamente, o extraordinário. É o ordinário visto com olhos despertos. É encontrar poesia naquilo que o cansaço insiste em tornar invisível. É seguir, mesmo tropeçando. É amar, mesmo ferido. É acreditar, mesmo sem provas. É recomeçar, mesmo sem saber o final.
No fim das contas, somos feitos disso: de gestos miúdos que sustentam a imensidão que é estar vivo. De afetos que não cabem em estatísticas. De detalhes que não aparecem nas fotos. De esperanças que sobrevivem aos temporais.
Somos feitos de milagres diários. Ainda que, por vezes, nos esqueçamos disso. Mas basta um olhar mais atento para lembrar: viver já é, em si, um acontecimento sagrado.
E estar aqui — lendo, sentindo, respirando — é milagre também.
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