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sábado, 5 de julho de 2025

⁉️O Fardo do "E Se..."

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Ah, Benjamin Franklin, com sua sabedoria atemporal, tocou em um dos maiores ladrões da nossa paz: a antecipação dos problemas. "Não antecipe os problemas ou se preocupe com o que pode nunca acontecer," ele nos adverte. Uma frase simples, mas que, se realmente internalizada, tem o poder de revolucionar a maneira como vivemos.

Pare e pense por um instante: quantas horas, dias, talvez anos, dedicamos a cenários que jamais se concretizaram? Aquele e-mail que geraria uma crise, a reunião que resultaria em demissão, a doença grave que se provou um resfriado. Nossos cérebros, por uma curiosa e muitas vezes cruel ironia, parecem ter uma predileção por construir pontes para desastres que só existem na nossa imaginação. Criamos enredos dramáticos, diálogos acalorados, e desfechos trágicos para situações que, na realidade, nunca passaram de fumaça.

Esse hábito de viver no futuro hipotético é exaustivo. É como carregar uma mochila cheia de pedras invisíveis. Cada "e se" é uma pedra que adicionamos, e o peso acumulado nos curva, nos cansa, nos rouba a energia que poderíamos usar para o presente. A preocupação antecipada não resolve o problema; ela apenas nos rouba a alegria do hoje, a clareza para lidar com o que é real e a serenidade para aguardar o que virá.

O paradoxo é que, ao nos preocuparmos excessivamente com o que pode acontecer, muitas vezes perdemos a capacidade de apreciar o que está acontecendo. O sol brilha lá fora, uma melodia agradável toca no rádio, o café está quente, mas nossa mente está presa em um turbilhão de "e se o projeto der errado?", "e se a viagem for um desastre?", "e se fulano não gostar de mim?".

Franklin nos convida a uma libertação. Uma libertação do fardo do controle, da ilusão de que podemos prever e, portanto, evitar, todas as adversidades. A vida é inerentemente imprevisível, e é justamente nessa imprevisibilidade que reside sua beleza e suas lições. Os problemas, quando e se surgirem, virão com suas próprias soluções, suas próprias aprendizagens. Antecipá-los é sofrer duas vezes: uma na imaginação e, talvez, outra na realidade.

Que possamos, então, respirar fundo e ancorarmo-nos no presente. Deixar que o futuro se revele no seu próprio tempo, sem a nossa intromissão ansiosa. Afinal, a energia que gastamos em preocupações vazias poderia ser investida em viver, em criar, em amar, em desfrutar. E talvez, só talvez, ao pararmos de antecipar o pior, descobriremos que a maioria dos monstros que tanto temíamos eram apenas sombras projetadas pela nossa própria mente.

Como você acha que a cultura atual, com seu excesso de informações e pressão, contribui para essa tendência de antecipar problemas?

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