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Um véu de tempo, tecido fio a fio pela aranha do esquecimento, cobre o relógio. O verde desbotado da sua carcaça quase se funde com o cinza da poeira e da teia, um testemunho
silencioso de dias, meses, talvez anos de abandono. Os ponteiros, antes guardiões fiéis de cada segundo, agora jazem partidos, impotentes, como asas quebradas de um pássaro que não pode mais voar.
A imagem não é apenas de um objeto empoeirado; é um espelho do tempo, ou da sua ausência. O tic-tac que um dia preencheu o ambiente com sua cadência regular, marcando a vida de alguém, agora é apenas um eco na memória de paredes silenciosas. O que aconteceu aqui? Uma partida apressada? Uma vida que se esvaiu, deixando para trás apenas a materialidade de seus objetos?
Cada fragmento de vidro quebrado no mostrador parece contar uma história de interrupção, de um momento final que não foi registrado. A poeira, que se acumula sem pressa, é a própria essência do esquecimento, cobrindo o que antes foi vibrante com uma camada de silêncio e desuso. As teias, por sua vez, não são apenas armadilhas para insetos; são a tapeçaria da negligência, conectando o relógio ao passado que se recusa a ser lembrado, mas que, paradoxalmente, está estampado em cada partícula de pó.
Este relógio, agora um artefato de um tempo parado, nos convida a refletir sobre a transitoriedade. A vida segue, impiedosa, enquanto alguns objetos ficam para trás, aprisionados em um loop temporal, testemunhas mudas de experiências passadas. E, ao observar esta cena, somos lembrados da nossa própria efemeridade, da fragilidade das nossas construções e da inexorável marcha do tempo que, para nós, continua a avançar, mesmo quando para outros, como este relógio, ele já parou.
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