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Outro dia, li uma frase dessas que ficam martelando na cabeça: “Fui atrás da felicidade e voltei da livraria com uns cinquenta livros.” Confesso que sorri. Porque, no fundo, é exatamente assim que a gente descobre certos caminhos que a alma prefere seguir: sem alarde, sem manual, apenas um impulso — e pronto, estamos com sacolas cheias de papel e coração aquecido.
Há quem diga que felicidade se encontra em grandes feitos, conquistas vistosas ou eventos extraordinários. E, claro, tudo isso tem seu valor. Mas há um tipo de felicidade mais sutil, quase secreta, que não grita e nem se impõe — apenas sussurra. E esses sussurros, para alguns, vêm entre páginas. Vêm no cheiro de livro novo, na dedicatória rabiscada à caneta, no marcador de página esquecido no meio de uma história que mudou o dia, ou talvez a vida inteira.
Ir à livraria, para alguns de nós, é como voltar ao próprio lar. Não aquele feito de tijolos e móveis, mas o que é feito de ideias, sensações e descobertas. É reencontrar amigos que nunca vimos, visitar mundos que não existem no mapa, ouvir vozes que vivem só no silêncio da leitura.
Talvez seja isso: a felicidade não está necessariamente naquilo que os outros apontam como essencial, mas sim no que faz nossos olhos brilharem sem explicação lógica. E livros fazem isso. Eles nos tiram da realidade e, ao mesmo tempo, nos devolvem para ela mais inteiros. Mais sensíveis. Mais conscientes de que há beleza nos detalhes e que, sim, uma tarde passada entre estantes pode curar mais do que mil terapias.
E é engraçado: saímos com a intenção de comprar um livro só, mas acabamos levando cinquenta — ou dez, ou três — porque cada capa parecia um convite, cada sinopse uma promessa. Não compramos só livros: compramos esperança, companhia, consolo, coragem. Em papel impresso, levamos sonhos em capítulos, perguntas sem respostas e respostas que nem sabíamos precisar.
Então, que bom que alguém foi atrás da felicidade e a encontrou entre lombadas coloridas e títulos intrigantes. Que bom que há quem ainda veja valor em passar horas folheando páginas como se estivesse desvendando segredos do universo.
No fim das contas, talvez a felicidade seja isso mesmo: um livro que nos escolhe quando menos esperamos. E, de preferência, um daqueles que a gente relê para lembrar quem é — ou quem deseja ser.
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