Há coisas que, se não forem ditas, não desaparecem. Pelo contrário, criam raízes dentro da gente. Crescem como ervas daninhas, silenciosas e persistentes, tomando o espaço do afeto, da paz, da lucidez.
Conversas difíceis — essas que costumamos adiar, engolir seco, fingir que não nos atravessam — são, muitas vezes, as únicas capazes de nos libertar do que nos aprisiona por dentro.
Mas é compreensível: abrir a boca para falar o que pesa é também abrir a alma. E há sempre o risco de não ser compreendido, de ferir ou de ser ferido. É por isso que muitos preferem o silêncio. Só que o silêncio não cura — ele acumula.
A mágoa não dita vai virando dureza. A dúvida não expressada se transforma em desconfiança. A tristeza não nomeada vira irritação. E assim, sem perceber, vamos adoecendo por dentro. Não de uma doença diagnosticável, mas de uma falta de verdade, de afeto, de coragem.
Falar é um ato de amor — consigo mesmo e com o outro. É preciso coragem para dizer “isso me machuca”, “eu não estou bem”, “precisamos conversar”. Mas é exatamente essa coragem que evita que os laços se desfaçam em silêncio.
Há quem diga que o tempo resolve tudo. Mas o tempo só resolve aquilo que foi tocado pela honestidade. O que não é dito, o tempo empurra para debaixo do tapete — e um dia tropeçamos.
Conversas difíceis não são confortáveis, mas são transformadoras.
Quando nos calamos, nos afastamos. Quando falamos com verdade, mesmo que doa, construímos pontes.
A palavra é remédio. Às vezes amarga, sim — mas cura.
Por isso, fale. Com cuidado. Com respeito. Com amor.
Mas fale. Porque o que você diz, cura.
E o que você cala… adoece.
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