(Crítica reflexiva à frase de Guimarães Rosa)
Guimarães Rosa, com sua linguagem encantada e cortante, nos entrega nesta frase uma síntese brutalmente verdadeira da existência: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
E é justamente aí que repousa a beleza — e a dureza — de viver.
A vida não promete constância. Ela se move em ciclos, em ondas, em espasmos de dor e lapsos de alívio. Quem espera uma linha reta, um roteiro previsível ou recompensas garantidas por bons comportamentos, cedo ou tarde, se frustra. A vida é uma estrada esburacada, com trechos de asfalto novo e outros tantos de terra batida. Esquenta e esfria. Muda de humor, de direção, de ritmo.
Guimarães não romantiza isso — apenas revela: viver é aceitar o descompasso. E mais ainda, é continuar mesmo quando nada está certo. Porque a exigência da vida nunca foi conforto, mas coragem.
Coragem para seguir adiante quando tudo aperta.
Coragem para recomeçar quando tudo desmorona.
Coragem para não se acomodar quando o sossego vira prisão.
Coragem para amar de novo, sonhar de novo, arriscar outra vez.
O problema é que vivemos tempos em que se cultua a evitação da dor a qualquer custo. A mínima instabilidade é vista como sinal de que algo está errado. Mas, como Guimarães aponta com tanta sabedoria, instabilidade é a própria natureza da vida. O erro não está no caos — está em querer fugir dele.
Assim, a frase é um convite — ou melhor, um desafio. A vida não quer explicações, garantias, fórmulas mágicas. Ela quer de nós o que há de mais humano e ao mesmo tempo mais difícil: a bravura de continuar com o coração aberto, mesmo sabendo que ele pode se partir.
No fundo, o que ela quer… é que sejamos maiores que o medo.
E talvez esse seja o único caminho possível para seguir.
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