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quinta-feira, 26 de junho de 2025

🤪A Sabedoria que Enlouqueceu

“A verdadeira loucura talvez não seja mais do que a própria sabedoria que, cansada de descobrir as vergonhas do mundo,  tomou a inteligente resolução de enlouquecer.” - Heinrich Heine

Dizem que o mundo enlouqueceu. Mas talvez, só talvez, ele tenha ficado lúcido demais.

A frase de Heinrich Heine soa como um sussurro no ouvido de quem já cansou de ser são. Quem observa demais, sente demais, pensa demais… um dia se quebra. A sabedoria, essa velha senhora de olhos atentos e coração calejado, ao notar as engrenagens do mundo girando fora de compasso, resolveu sentar à beira da estrada e rir. Não de um riso leve, mas daquele riso aflito que vem de quem viu demais e sabe que não adianta mais gritar.

Porque a loucura, nesse caso, não é desatino. É refúgio. É estratégia.

Há uma lucidez cruel em entender as misérias humanas, em perceber que o tempo passa e os erros se repetem com novas roupas. Que a ganância segue vestida de progresso, a violência se disfarça de justiça e a solidão caminha entre multidões conectadas. A sabedoria, então, fatigada de oferecer alertas a quem tapa os ouvidos com ego e conveniência, resolveu algo ousado: soltou as amarras, rasgou os diplomas, jogou os livros pela janela e dançou com os pés descalços no meio da rua. Fez caretas, falou sozinha, pintou o cabelo de azul, ou apenas silenciou para sempre.

Louca? Talvez.

Mas há uma certa dignidade em perder o juízo quando o mundo parece ter perdido a alma.

Quem sabe os loucos não sejam apenas os lúcidos que preferiram fingir que não sabem? Quem sabe, no fundo, a insanidade seja apenas um modo poético de sobreviver num tempo em que a razão se ajoelha diante do lucro, e a sensibilidade é vista como fraqueza?

Talvez por isso, entre a insanidade e a ignorância, a sabedoria cansada tenha escolhido o primeiro caminho. Porque quem sabe demais, sofre demais. E quem sofre demais, uma hora resolve soltar a corda.

Então, da próxima vez que você vir alguém falando com as nuvens, rindo de si mesmo ou chorando diante de uma flor… talvez não seja loucura. Talvez seja apenas sabedoria em seu último e mais profundo gesto de liberdade.

Afinal, como dizia Heine, talvez a verdadeira loucura seja só a sabedoria que se cansou de ser ignorada — e, com grande inteligência, resolveu enlouquecer.

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