Escrevo porque o silêncio também tem voz.
E às vezes, ele sussurra entre xícaras de café, nos intervalos entre uma palavra e outra, nas pausas que ninguém percebe, mas que dizem tudo.
Era uma manhã fria e úmida.
A rua ainda acordava devagar, como quem resiste ao peso do próprio cotidiano.
Dentro de uma cafeteria modesta, sentada à mesa perto da janela, observei dois senhores. Eles não diziam uma única palavra — apenas partilhavam o calor de suas xícaras fumegantes, os olhos voltados para fora, para o mundo que girava sem pressa do lado de dentro deles.
E foi ali, entre os goles calmos e os olhares distantes, que percebi: o silêncio tem linguagem própria.
Ele não precisa de ponto final, tampouco de exclamações.
Ele fala por entre os gestos, no jeito de segurar a xícara, no tempo que se leva para levantar o olhar.
É um idioma que só entende quem aprende a escutar com o coração atento.
Escrever, para mim, é a tentativa de traduzir esse silêncio.
Porque há coisas que não cabem em conversas rápidas, em áudios apressados, em frases digitadas entre uma notificação e outra.
Há dores que não gritam.
Há alegrias que não saltam, apenas se espalham como um aroma bom no ar.
E é para tudo isso que escrevo.
Escrevo porque o silêncio me pede.
Porque em meio ao ruído do mundo — das redes, das exigências, das urgências — o silêncio se tornou um ato de resistência.
Um lugar seguro onde a alma pode respirar.
Alguns dizem que quem cala consente.
Mas nem sempre.
Às vezes, quem cala está apenas ouvindo o que ninguém mais quis escutar.
Às vezes, quem cala está lutando com monstros internos que não sabem ser nomeados.
E é por isso que escrevo.
Porque o silêncio sussurra — e eu escuto.
Porque ele me olha nos olhos quando todos se distraem.
E porque, ao final de tudo, é no silêncio que as palavras nascem com mais verdade.
Entre uma xícara de café e outra, escrevo o que o silêncio não grita, mas insiste em me mostrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário