sexta-feira, 20 de junho de 2025

🗣️O Silêncio também tem voz

Escrevo porque o silêncio também tem voz.

E às vezes, ele sussurra entre xícaras de café, nos intervalos entre uma palavra e outra, nas pausas que ninguém percebe, mas que dizem tudo.

Era uma manhã fria e úmida.

A rua ainda acordava devagar, como quem resiste ao peso do próprio cotidiano.

Dentro de uma cafeteria modesta, sentada à mesa perto da janela, observei dois senhores. Eles não diziam uma única palavra — apenas partilhavam o calor de suas xícaras fumegantes, os olhos voltados para fora, para o mundo que girava sem pressa do lado de dentro deles.

E foi ali, entre os goles calmos e os olhares distantes, que percebi: o silêncio tem linguagem própria.

Ele não precisa de ponto final, tampouco de exclamações.

Ele fala por entre os gestos, no jeito de segurar a xícara, no tempo que se leva para levantar o olhar.

É um idioma que só entende quem aprende a escutar com o coração atento.

Escrever, para mim, é a tentativa de traduzir esse silêncio.

Porque há coisas que não cabem em conversas rápidas, em áudios apressados, em frases digitadas entre uma notificação e outra.

Há dores que não gritam.

Há alegrias que não saltam, apenas se espalham como um aroma bom no ar.

E é para tudo isso que escrevo.

Escrevo porque o silêncio me pede.

Porque em meio ao ruído do mundo — das redes, das exigências, das urgências — o silêncio se tornou um ato de resistência.

Um lugar seguro onde a alma pode respirar.

Alguns dizem que quem cala consente.

Mas nem sempre.

Às vezes, quem cala está apenas ouvindo o que ninguém mais quis escutar.

Às vezes, quem cala está lutando com monstros internos que não sabem ser nomeados.

E é por isso que escrevo.

Porque o silêncio sussurra — e eu escuto.

Porque ele me olha nos olhos quando todos se distraem.

E porque, ao final de tudo, é no silêncio que as palavras nascem com mais verdade.

Entre uma xícara de café e outra, escrevo o que o silêncio não grita, mas insiste em me mostrar.

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