(Uma crônica inspirada em Confúcio)
Há uma espécie de liberdade silenciosa em parar de esperar demais dos outros.
No começo, soa como ceticismo, amargura ou frieza. Mas, com o tempo, percebemos que é, na verdade, uma das formas mais maduras de preservar a paz. Confúcio, com sua sabedoria antiga e ainda tão atual, nos deixou esse convite simples e poderoso: exige muito de ti, espera pouco dos outros.
E talvez ele soubesse que boa parte das nossas decepções não vem do que o outro faz, mas do que a gente esperava que ele fizesse.
Esperamos que reconheçam nossos esforços.
Esperamos que pensem como nós.
Esperamos que retribuam na mesma medida.
Esperamos que entendam, mesmo quando não explicamos.
Esperamos… esperamos… e nos frustramos.
Viver nessa eterna expectativa é como andar com os pés descalços sobre vidro: a cada passo mal dado, uma ferida nova. Por isso, há sabedoria em voltar-se para dentro, não como fuga, mas como reinício.
Quando começamos a exigir mais de nós — mais disciplina, mais paciência, mais clareza, mais ação —, mudamos a direção da bússola. O foco deixa de ser o que esperam de nós ou o que não recebemos, e passa a ser o que estamos construindo com o que temos.
Exigir de si não é ser duro consigo. É ser justo. É assumir o próprio caminho como responsabilidade. É parar de culpar o mundo pelo que ainda não floresceu em nós.
E esperar pouco dos outros não é deixar de amar, confiar ou acreditar nas pessoas.
É simplesmente entender que o outro é humano, limitado, distraído, falho — como eu, como você.
Menos cobrança, mais compreensão. Menos espera, mais entrega.
Quem aprende isso, coleciona menos aborrecimentos e mais serenidade.
Afinal, a verdadeira paz não está em controlar o outro. Está em governar a si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário