A vida, às vezes, se parece muito com a cozinha de uma casa antiga: cheia de potes iguais, com rótulos apagados pelo tempo. E é ali, no meio da rotina, que aprendemos uma das lições mais duras — nem tudo é o que parece. Há quem confunda sal com açúcar. Há quem confunda carinho com manipulação. Há quem confunda atenção com interesse.
De longe, os dois potes parecem idênticos. Brancos, finos, discretos. Mas basta um gesto impensado — uma colherada no café ou na sobremesa — para que o gosto revele a verdade. Amargo. Incômodo. Irrecuperável. Como certas relações.
Confiar é, muitas vezes, um ato cego. Depositamos fé em gestos, palavras e presenças. Mas nem todo sorriso é sincero, nem todo abraço é abrigo. Há quem se aproxime com palavras doces só para temperar a própria ausência de afeto com o nosso excesso. Gente que enche nossa vida com promessas, mas que evapora assim que o fogo esquenta.
O problema é que, até descobrir a diferença, já é tarde demais. O bolo está assado. A receita, arruinada. E o gosto… difícil de esquecer.
Por isso, a sabedoria mora na pausa. Em observar com mais calma, em provar com cuidado, em confiar sem se entregar inteiro logo de início. A aparência pode enganar, mas o tempo — ah, o tempo revela tudo. Ele mostra quem adoça e quem apenas disfarça o amargor da própria alma.
Tenha cuidado. Sal e açúcar parecem iguais, mas só um deles faz a vida mais doce. O outro, quando colocado em excesso, corrói.
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